Conteúdo exclusivo para servidores associados  do Sindicato

ASFOC

Acesso restrito

Máscaras artesanais conferem proteção contra o coronavírus? Elas podem retardar o ritmo de propagação da Covid-19?

06/04/2020

 

A Asfoc-SN, Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fiocruz, convoca a população, Centrais Sindicais, movimentos sociais e demais entidades da sociedade civil organizada a debater o uso de máscaras artesanais como estratégia de defesa diante do avanço da pandemia e da trágica ausência de equipamentos de proteção individual que o subfinanciamento, a precarização e a irresponsabilidade para com a saúde pública geraram em nosso país. Um país onde o presidente da República desperdiçou, e vem desperdiçando, tempo precioso de organização de nossas defesas, minimizando os efeitos nocivos da Covid-19 e atrapalhando iniciativas de articulação entre os três poderes e os três níveis de governo no sentido de montar as estruturas físicas e legais para proteger a população. Um debate necessário e que ultrapassa a mera indicação desse tipo de equipamento. Um debate que lance luz sobre a mudança de estratégia embutida em tal indicação e os problemas e vantagens que acompanham essa mudança de orientação.

De fato, uma ideia que está circulando bastante nas redes sociais é a possibilidade de ampliação da utilização de máscaras por toda a população. O que está por trás dessa nova orientação é a tentativa de redução da transmissão do vírus por portadores assintomáticos. O pressuposto é que é preciso evitar, ao máximo, a propagação do vírus por pessoas aparentemente saudáveis, reduzindo a exposição dos vulneráveis e possibilitando mais tempo para que a União, Estados, Municípios e a sociedade se organizem melhor para combater a pandemia. Uma ideia que encontra nas atitudes do presidente um inimigo de peso já que o mesmo, contrariando as orientações de todas as autoridades sanitárias do mundo, tem protagonizado péssimos exemplos de conduta pública diante do perigo que a todos ameaça.

Diferentemente da orientação anterior, que aconselhava o uso de máscaras somente para aqueles que estivessem entre os profissionais da linha de frente, os vulneráveis e os casos suspeitos, a nova diretriz tem como alvo toda a população. A atenção, portanto, está focada agora na criação de barreiras mais amplas, a exemplo do isolamento voluntário ou da quarentena. Um uso mais abrangente e intensivo desse equipamento. Um uso que atinja o maior número de pessoas possível. Uma orientação destinada a proteger o indivíduo e as pessoas ao seu redor. Uma diretriz ainda não assimilada por aqueles que, com ou sem passado de atletas, se acham imunes a “gripezinhas” capazes de matá-los e que não compreendem o seu papel em uma cadeia de transmissão capaz dizimar milhares de pessoas.

Evidentemente, a ampla utilização da máscara não substitui outras medidas como a lavagem constante das mãos; distanciamento físico nos contatos presencias; a etiqueta respiratória; o isolamento; o uso do álcool gel; a higiene de alimentos; o cuidado com as roupas e a sanitização de residências, transportes coletivos, prédios e logradouros públicos.

O problema, como é de conhecimento de todos, é que não há máscaras certificadas nem mesmo para o pessoal da chamada linha de frente ou para os vulneráveis. O que dizer então de sua utilização pela totalidade da população? Ou mesmo apenas por parte da população dos grandes centros e aglomerações urbanas? Vergonhosa e escandalosamente enfrentamos uma séria crise no fornecimento desse e de outros equipamentos de proteção individual. Uma situação já denunciada pela Internacional do Serviço Público (ISP) e subscrita pela Asfoc-SN (ver o link https://www.facebook.com/asfocsn/posts/2965170246876159?__tn__=K-R).

Nesse sentido, estamos defendendo, junto aos movimentos sociais e a outras entidades, uma campanha em favor do uso consciente de máscaras artesanais como equipamento auxiliar no combate à propagação da pandemia. Um equipamento, que acreditamos, pode contribuir para a proteção individual e a redução da transmissão e do ritmo de propagação do Covid-19.

Não estamos, certamente, falando de um equipamento certificado e confeccionado dentro de rígidos padrões de segurança e com material apropriado e devidamente esterilizado. Sabemos que se trata de um tema polêmico e defendemos que é preciso esclarecer os aspectos negativos e positivos que envolvem a sua adoção em uma estratégia de proteção em massa que pretende cooperar, ao lado de outras iniciativas, para a redução das formas de contágios e do ritmo de propagação da pandemia.

Como aspectos negativos, temos a possibilidade de passar a falsa sensação de segurança que pode, por sua vez, levar ao relaxamento das defesas de indivíduos e famílias diante do perigo. É preciso, também, considerar a eventualidade da utilização de um equipamento não certificado contribuir, mesmo que sem intenção, para o contágio possibilitado por uma máscara porosa, e que pode, por problemas de projeto, não vedar adequadamente a boca e o nariz ou ainda se transformar em fonte de infecção pelo uso constante associado à falta de higienização e a formas de manuseio e descarte inadequadas. Devemos levar em consideração que estamos indicando a sua utilização para uma população imensa e muito diversificada em termos de sociabilidade, cultura e acesso a informações.

O uso da máscara de pano, assim como ocorre com as certificadas, também pode fazer com que muitas pessoas levem as mãos ao rosto mais vezes do que o costume. A proximidade das mãos com os olhos, nariz e boca aumenta o risco de contaminação, uma vez que as mãos estão muito expostas às fontes de contaminação devido ao manuseio constante de dinheiro, talheres e o uso de corrimãos, balaústres de transporte coletivo, maçanetas e outros materiais com os quais entramos frequentemente em contato no nosso cotidiano.

Por outro lado, devemos lembrar que a utilização inadequada, em termos de manuseio, reutilização e cuidados com a higiene pode ser nociva mesmo quando se trata de equipamento certificado. Nessa perspectiva, a orientação correta sobre o uso, manutenção e as características do equipamento são fundamentais para que se obtenha a proteção e a redução do alcance e do ritmo de propagação do vírus almejada por todos nós.

Ao lado da utilização de cada material, equipamento ou iniciativa destinada a combater a pandemia devemos ter uma ação pedagógica aberta à escuta e a troca. Um diálogo que envolva o conhecimento científico e as condições concretas de cada comunidade. Um diálogo que considere culturas e condições diversas. Uma ação conjunta e solidária capaz de criar e fortalecer as condições de autodefesa e empoderamento das comunidades mais vulneráveis. Uma ecologia de saberes envolvendo o conhecimento científico e o conhecimento do território e suas relações. Uma troca de conhecimentos aplicada a uma situação de grande perigo que, embora ameace a todos, atinge de modo mais agudo e abrangente as populações de baixa renda e aqueles situados na faixa de pobreza extrema.

Na ausência de material certificado, as experiências de outros países têm valorizado, apesar de todos os inconvenientes e problemas anteriormente apontados, o uso de máscaras caseiras como mais um instrumento auxiliar a ser empregado no combate à pandemia. Um emprego, é importante ressaltar, necessariamente associado a outras medidas.

Estamos buscando informações sobre as possibilidades de confecção artesanal de tais máscaras de forma a torná-las mais seguras e eficientes. Nossa ideia é oferecer, em breve, orientação técnica sobre o modo de confeccioná-las, os materiais mais adequados, leves e laváveis, as características relativas à vedação, funcionalidade, conforto, as formas de esterilização e manuseio, tempo de uso e as maneiras seguras de descarte.  Pensamos também em incentivar a montagem de redes de produtores com campanhas de aquisição de material, equipamentos e profissionais.

Podemos e devemos recomendar o uso de máscaras artesanais e, ao mesmo tempo, apontar os riscos de sua utilização e, com isso, discutir estratégias de combate à pandemia com as comunidades. Estamos propondo que se adote uma via de mão dupla no estabelecimento de elos de solidariedade e de canais de comunicação. Estimular a organização a partir de uma perspectiva de diálogo. Uma maneira de debater as formas de contágio e as estratégias de combate com a população para que ela se torne senhora das informações e mostre o que é ou não possível fazer. Ou o que é preciso fazer em cada situação.

Acreditamos que é preciso montar parcerias com entidades como o Cebes, a Abrasco, as Centrais Sindicais, Contag, o MST, movimentos sociais e outros sindicatos visando a montagem de uma rede solidária e colaborativa de informações, troca de experiências e ajuda mútua.  Um esforço conjunto de mobilização e combate ao avanço da pandemia. É preciso alargar as experiências já existentes e promover e apoiar iniciativas semelhantes para o campo e outros centros ainda não atingidos e que podem se preparar melhor para o enfrentamento da pandemia.

Consideramos importante aproximar, cada vez mais, a Asfoc-SN das comunidades e realizar um trabalho pedagógico de mão dupla. Nesse sentido, estamos debatendo formas de mobilizar e utilizar nossa estrutura localizada em todas as regiões do país para participar da montagem de redes de debate e difusão de informações. Redes que possam atuar no combate ao coronavírus e partilhar esforços, problemas e os progressos alcançados nessa direção. Estamos nos organizando em plena luta e convocamos todos a fazer o mesmo e participar de uma luta que é de todos. Quem sabe assim se conquiste a mesma atenção que se confere aos bancos.

É preciso cuidar e cuidar de quem cuida. Somos a Asfoc-SN. Somos Fiocruz. Somos SUS!

Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública - Asfoc-SN
Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de janeiro / RJ – CEP 21040-360
E-mail:secretaria@asfoc.fiocruz.br | jornalismo@asfoc.fiocruz.br
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta das 08h às 17h.
Telefones: (21) 2598-4231 | 2290-7347 | 2290-6395 | 2564-5720