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Degenerescência

segunda-feira, 24 Dezembro, 2018

CLAUDIO SALM
Jornal do Brasil

A economia brasileira vem acumulando atrasos em relação às economias mais dinâmicas há quase quatro décadas, mas nos últimos anos o quadro se agravou. Vamos para o quinto ano de déficits fiscais - desde 2015 -, quando a economia, que já vinha mal, foi lançada na pior recessão de nossa história, arrasando com as receitas públicas nas várias esferas, especialmente em alguns dos maiores estados da federação. A dívida pública da União segue crescendo em relação ao PIB e os gastos com os juros da dívida, apesar do bom comportamento recente da taxa SELIC, são da ordem de 400 bilhões de reais por ano. Temos mais de 12 milhões de desempregados, os serviços públicos seguem se deteriorando e a criminalidade aumenta. A impressão é que o País entrou em estado de degenerescência.

O analfabetismo econômico é enorme entre nós. A imensa maioria atribui nossas mazelas à corrupção, crime grave, mas nem de longe capaz de explicar a situação a que chegamos. O candidato eleito, Jair Bolsonaro, surfou nessa ignorância e até a fortaleceu alegando nada saber de Economia. Tratou o assunto com menosprezo, delegando-o ao “posto Ypiranga”, o que pode significar, creio, que lava as mãos. Se não der certo ou desagradar demais, terá a quem culpar. Em caso de grande frustração, basta buscar outro posto para abastecer.

Sabemos, todos, ortodoxos e heterodoxos, que só uma retomada mais vigorosa do crescimento econômico, algo como 3,5% ao ano por uns três ou quatro anos pelo menos, será capaz de acabar com o desemprego e estabilizar a dívida pública. Não há corte de despesas nem combate à corrupção que possam fazer frente aos atuais desequilíbrios fiscais.

A questão, portanto, é como conseguir a retomada do crescimento económico, ou seja, como elevar o investimento diante da penúria das várias esferas do setor público.

O campo ortodoxo-conservador aposta na reversão de expectativas provocadas por fortes sinalizações de que não vamos permitir o colapso das contas públicas. O sinal mais forte é uma reforma da previdência capaz de estancar os gastos com aposentadorias e pensões nas três esferas de governo. Outro sinal, a proposta de abater dívida a golpes de privatizações. Emitidos esses sinais, segue o pensamento conservador, o investimento privado, nacional e estrangeiro, retornaria com apetite.

Já o campo heterodoxo, keynesiano, ou como se queira chamar, discorda de forma veemente; austericídio! vejam o caso da Grécia! Advertem que não se faz ajuste fiscal em recessão, que as coisas só iriam piorar. O importante é retomar o investimento público e, a julgar pelas plataformas das campanhas presidenciais, a retomada seria financiada por uma reforma tributária que penalizasse apenas os mais ricos aliviando a carga que incide sobre os mais pobres.

Faltou definir quem são os “mais ricos”. Desconfio que não os temos em número suficiente e que a mordida sugerida seria em cima da classe média mesmo. De qualquer forma, se quisermos realmente combater o déficit fiscal e reativar os investimentos públicos, cabe ter em mente que estamos tratando de cifras da ordem de meio trilhão de reais apenas no nível federal.

Apesar da urgência alardeada, a proposta de reforma da Previdência do governo Temer parece não agradar ao presidente eleito por razões não esclarecidas pelo “posto Ypiranga” que, até agora, não apresentou alternativa.

Enquanto nada se define, crescem os temores de nova recessão mundial e permanece a ameaça de elevação dos juros americanos.

Feliz ano novo.

* Economista, professor aposentado da UFRJ / Com colaboração de ADUFRJ/Asduerj/Asfoc

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