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Alerta à população

30/03/2020

A Asfoc-SN vem a público manifestar, mais uma vez, sua imensa preocupação com o avanço da pandemia de Covid-19, e, mais uma vez, repudiar veementemente as atitudes insanas do presidente da República em uma hora tão grave de nossa história em que a vida de todos nós se encontra em grande perigo.

Em direção contrária à Organização Mundial da Saúde, às autoridades sanitárias e cientistas de todo o mundo, o presidente Bolsonaro, que não se apoia em evidências científicas e que não reúne qualificação específica alguma para lidar com essa crise, aposta as nossas vidas na roleta russa do incentivo da volta a uma normalidade que não existe mais.

Vale ressaltar que projeções realizadas pelo reconhecido Imperial College de Londres, instituição que vem acompanhando as ações de combate à pandemia no mundo, dão conta que o Brasil pode alcançar a cifra de 1,15 milhão de mortes se nada for feito e a Covid-19 continuar a ser tratada como “gripezinha” ou “resfriadinho”. De acordo com os estudos do instituto de pesquisas inglês, a mitigação com distanciamento leve reduziria esse número para aproximadamente 630 mil. Já no isolamento de todos os vulneráveis e de todos os que não estão em atividades essenciais, o número de mortos ficaria entre 44 mil e 206 mil. Números ignorados por Bolsonaro e todos aqueles que pregam a chamada “imunização de rebanho”, estratégia que prevê que, uma vez dizimada uma parte considerável do contingente vulnerável da população, a imunidade obtida pelos que foram curados seria capaz deter o avanço da pandemia. Uma estratégia nada humanitária e que não leva em conta a eventualidade, ainda que remota, de reinfecções e da abertura, pela livre propagação do vírus, de campo fértil para a ocorrência mutações nocivas e alterações no seu comportamento que dificultem o seu combate.

De fato, ainda não temos conhecimento pleno e solidamente estabelecido sobre o vírus, sua capacidade de mutação e mesmo sobre quem está, realmente, exposto à morte. Embora se afirme que os maiores de 60 anos estão mais vulneráveis, isso não significa que crianças, jovens e adultos mais novos não estejam sob perigo. Há casos em que crianças e jovens chegaram a óbito mesmo sem apresentarem quadros de comorbidades. A situação é gravíssima e complexa e, ao contrário da fala presidencial que se conforma com a morte de um número indefinido de pessoas para que a economia volte a funcionar, cada vida importa.

Demostrando não estar à altura das exigências do momento e ignorando a experiência mundial, Bolsonaro se porta como um ignorante, doentiamente obcecado em defender o indefensável. Cada vez mais isolado e reativo, o presidente se debate em meio a exemplos e atos irresponsáveis contra a saúde pública, buscando desqualificar o trabalho do Ministério da Saúde, dos especialistas, dos governadores, prefeitos e da sociedade que luta para reduzir o número de mortes e o sofrimento de todos.

O país precisa agir com rapidez e garantir renda mínima suficiente a quem dela necessita. É preciso garantir a logística do abastecimento de gêneros alimentícios, material de higiene, produtos de sanitização, equipamentos de proteção, energia, água, comunicações e segurança. É preciso construir hospitais de campanha, encampar temporariamente prédios para servirem de abrigo e isolamento da população de baixa renda. É preciso integrar a rede hospitalar e ambulatorial privada aos esforços públicos. É preciso fabricar respiradores, aumentar o número de leitos e UTIs. É preciso fabricar e importar kits de diagnóstico. Aumentar muito a aplicação de testes conjugada a outras ações. É preciso promover a desinfecção periódica de centros de atendimento e logradores públicos. Precisamos de planos específicos para as favelas e comunidades de baixa renda. Precisamos de medidas urgentes e coordenadas. Precisamos da ajuda externa e de nos articular às iniciativas da comunidade internacional. É preciso ouvir os especialistas. É preciso solidariedade e coordenação entre os três poderes e as três esferas e dessas com a sociedade.

Preso a uma elite econômica que não abre mão de seus privilégios e ganhos baseados em intensa exploração e concentração de renda e a alianças geopolíticas contrárias aos interesses nacionais, Bolsonaro e Paulo Guedes se recusam a enxergar que o Estado tem que colocar pesados recursos no combate à pandemia. Recursos insuficientes e mesquinhos são apresentados como uma grande participação do governo e do Estado no combate à pandemia. O presidente da República e seu ministro se recusam a perceber que as políticas neoliberais de Estado mínimo e de austeridade estão em nociva e insustentável contradição com o que a população e o futuro do país necessitam. Se recusam a admitir que o “cada um por si” do mercado selvagem tem que ceder lugar à solidariedade e a um Estado para todos.

Depois de mais de um ano de ataques às políticas de saúde e bem-estar social; depois do sucateamento e precarização dos serviços públicos, de um desemprego recorde; depois do ataque ás universidades e instituições científicas, depois de cortar recursos de setores vitais para o enfrentamento da pandemia, Bolsonaro e Guedes insistem na redução da capacidade do Estado reagir à pandemia e mesmo durante a tormenta buscam reduzir direitos, salários e carga horária dos servidores. Em plena vigência da pandemia, ainda se agarram a princípios de uma reforma que penaliza o atendimento das demandas da população e a infraestrutura necessária ao enfrentamento da crise e à futura reconstrução do país.

Portando-se como quem faz um favor e com nenhuma agilidade e diminuta percepção do tamanho da crise, o governo federal apresentou inicialmente uma proposta ridícula, se não fosse trágica, para atender à população que a reforma Trabalhista e o desemprego jogaram na informalidade: um programa de renda mínima de R$ 200,00! Programa que foi, felizmente, revisto pela oposição para a cifra, ainda insuficiente de R$ 600,00, podendo atingir R$ 1.200,00. Um programa que, apesar de ainda mesquinho, está demorando a sair do papel.

Por outro lado, bem mais prestativo e alegando que precisa proteger o setor financeiro, o Banco Central, em consonância com Guedes e Bolsonaro, prontamente anunciou a disponibilidade de R$ 1,216 trilhão para os bancos brasileiros. O montante, divulgado no dia 23 de março, pelo próprio BC, equivale a 16,7% do Produto Interno Bruto e se destinaria, segundo seus proponentes, a aumentar a oferta de dinheiro no mercado a juros reduzidos e prazos longos de amortização de modo a socorrer a atividade produtiva, a manutenção dos empregos e a capacidade de resposta da economia à crise.

Entretanto, nada disso está acontecendo. Segundo empresários do setor produtivo, os juros aumentaram e os prazos encurtaram. De acordo com esses empresários, os bancos estão represando o crédito e se defendendo dos efeitos da pandemia, deixando o país à própria sorte. O mesmo risco que correm as linhas especiais de crédito para a manutenção de empresas e empregos.

Evidentemente não defendemos a quebra do setor financeiro ou do setor produtivo. Contudo, alertamos para o fato de não haver segurança de que os recursos, imprescindíveis para o enfrentamento da pandemia, sejam realmente aplicados no socorro à população, no estímulo à produção e na garantia do abastecimento. É preciso critério e monitoramento.

É preciso combater a especulação. É preciso também colocar recursos direto nas mãos dos trabalhadores que, ao consumir, impulsionam o setor produtivo e aceleram a retomada do dinamismo do mercado. Desempregados, donas de casa, trabalhadores autônomos, pessoas na informalidade, diferentemente dos rentistas e uma grande parcela da elite econômica, não entesouram ou especulam com recursos públicos.

Os trabalhadores da Fiocruz, assim como os das universidades, dos institutos de pesquisa, das secretárias de saúde e de todos aqueles que garantem o funcionamento das atividades essenciais, apesar da forte pressão a que estão submetidos, estão conscientes da sua missão e empenhados em cumpri-la.

Não há saída a não ser lutar. Precisamos nos posicionar. Precisamos nos apoiar mutuamente. Infelizmente, ainda existe um segmento que, apesar de conhecer a gravidade da situação, apoia a volta indiscriminada ao trabalho e, ao mesmo tempo, se coloca ausente na cobrança de um plano de combate à pandemia por parte do presidente. Um presidente que, ao contrário da defesa da volta ao trabalho, não apresenta propostas sérias e factíveis para a solução. Infelizmente, também ainda contamos com uma grande parcela da população que ignora os riscos a que está exposta e se ilude com as bravatas protagonizadas pelo presidente.

A exemplo do recente rompimento com antigo aliado, o médico Ronaldo Caiado, governador de Goiás, Bolsonaro vem colecionando desafetos mesmo entre aqueles que o ajudaram a se eleger. Estamos diante de um presidente que não escuta e não se abre ao diálogo. Um presidente que se considera acima das cobranças da sociedade. Um comportamento intransigente que, como já afirmamos, não se apoia em evidencias científicas, mas sim comprometimentos políticos e ideológicos.

Os jornais falam de um processo de crescente incompatibilidade entre o presidente e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cuja orientação estaria de acordo com as diretrizes seguidas no restante do mundo, contrariando a visão de Bolsonaro sobre as estratégias de combate ao avanço da Covid-19. Esperamos que o bom senso prevaleça e que os atritos não evoluam para uma crise institucional de maiores proporções.

Diante desse enorme desafio, estamos todos assoberbados e apreensivos. Alguns de nós enfrentando dramas pessoais e familiares, mas continuamos firmes, fazendo a parte que nos cabe. Entretanto, é preciso reafirmar que, mais do que nunca, precisamos de um governante sereno e agregador, com capacidade de articulação e desprendimento. Alguém que se importe mais com a população e o futuro do país do que com o combate a inimigos imaginários. Alguém mais comprometido com a ciência do que com a ideologia. Alguém que coloque o Brasil e seu povo na frente de ambições ou querelas pessoais.

Se estiver de acordo, ajude a divulgar e repasse para o maior número de pessoas possível. É preciso cuidar e cuidar de quem cuida. Somos a Asfoc-SN. Somos Fiocruz. Somos SUS!

Rio de Janeiro, 30 de março de 2020.

Diretoria Executiva da Asfoc-SN

Clique aqui e leia o posicionamento da Asfoc-SN sobre a pandemia no dia 26 de março.

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