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Nota da Asfoc-SN sobre assassinato brutal de homem negro na véspera do Dia da Consciência Negra

20/11/2020

A Asfoc-SN vem a público manifestar o seu mais veemente repúdio a mais uma atrocidade do nosso cotidiano. Estamos nos referindo ao brutal assassinato por espancamento de João Alberto Silveira Freitas. Uma morte marcada pelo racismo e pela violência perpetrada contra a condição social da vítima.

Na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, o País recebe a notícia do assassinato por espancamento de um homem negro em uma das lojas do supermercado Carrefour de Porto Alegre. Uma morte causada por motivo fútil e por uma cultura racista e violenta que marca nossa sociedade. Uma cultura que tem encontrado solo fértil em um país que tem entre seus dirigentes pessoas que valorizam as armas e menosprezam a vida.

A nota do Carrefour descreve o assassinato como um episódio inexplicável. Uma posição cômoda e destituída de verdade. Uma posição que busca se descolar do que se passou dentro de uma de suas lojas. A rede se supermercados deveria olhar com mais cuidado o que ela passa como orientação aos seus funcionários. Deveria também procurar conhecer o que se passa no País. Nos parece que a responsabilidade social da empresa não zela por nada além da imagem que pretende projetar.

Vale lembrar que não é a primeira vez que situações semelhantes acontecem nas dependências da empresa. Em 2001, ela foi acusada de usar traficantes para castigar pessoas que praticavam furto na sua loja de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Uma estrutura paralela de exercício daquilo que a empresa considerava justiça. Em 2018, os seguranças da empresa espancaram um cachorro até a morte. Esse ano, em Recife, a loja escondeu o corpo de um de seus trabalhadores atingido por morte súbita com um guarda sol enquanto a loja permanecia aberta. Resta saber se a empresa francesa teria esse tipo de comportamento em seu país de origem ou só reserva tais atitudes para países que ela considera como bárbaros ou onde a barbaridade é tolerada.

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi assassinado por dois homens, sendo que um deles é policial militar. Circunstância cada vez mais presente nesse tipo de ação criminosa.

No vídeo que circula nas redes sociais é possível ver, além das cenas de bárbaras de espancamento, uma funcionária do estabelecimento tentando impedir a filmagem e ameaçando a pessoa que registrava a atrocidade. Uma demonstração da banalização e naturalização de ações ilegais, covardes e cruéis, cotidianamente cometidas contra negros e pobres. Ainda sobre os vídeos, é possível observar que para além do testemunho que não busca interferir na cena tratando-a como espetáculo, muitos deles revelam também o medo de fazer alguma coisa para impedir algo tão estúpido.

O levantamento publicado no Atlas da Violência 2020 indica que os assassinatos de negros aumentaram 11,5% em dez anos, enquanto os de não negros caíram 12,9% no mesmo período. O relatório também mostra que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os negros são cerca de 56% da população brasileira, mas representam 79% das vítimas das intervenções policiais com resultados em morte e são 65% dos policiais assassinados.

Uma violência que se expressa nas mortes por balas perdidas, na transformação das comunidades em campo de batalha, na conduta condenável de parcela dos policiais e no silêncio de muitos.

Vivemos em um país em que uma família foi atingida por 80 tiros disparados por agentes do Exército brasileiro. Em que crianças são assassinadas dentro de casa por forças de segurança que deveriam protegê-las.

Até quando vamos conviver com essas cenas? Até quando vamos conviver com a cultura da violência? Até quando vamos conviver com o genocídio da população negra?

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