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Na última live do ano, Asfoc recebe futuro secretário de Saúde do município do Rio

30/12/2020

A Asfoc-SN recebeu na última live do ano, terça-feira (29/12), o futuro secretário de Saúde do município do Rio de Janeiro, Daniel Soranz. Durante o evento digital, “Cenários: Saúde Pública 2021”, o médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz abordou a crise do setor na cidade, a falta de testes para Covid-19, os erros de planejamento no combate à pandemia do novo coronavírus, o desabastecimento de medicamentos, o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS), a força da Atenção Básica, a atuação das Organizações Sociais (OSs), o relacionamento da nova gestão municipal com o governo Federal e o plano de vacinação.

Daniel revelou que a próxima gestão municipal “está correndo atrás de todas as vacinas”. Segundo ele, foram feitos contatos para obter a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, além da desenvolvida pela Universidade de Oxford e a Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. Outras discussões estão em andamento, e apenas com a farmacêutica Moderna “não avançou muito”. “Se tem um local para botar dinheiro público para dar muito resultado é na vacinação”, ressaltou.

O futuro secretário de Saúde disse que vai reforçar o papel do Plano Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. Afirmou que o governo Federal deve ser o comprador único das vacinas no país e, assim, “fornecer para a população de maneira equânime e igualitária”.

“Considero o Ministério da Saúde um grande parceiro. Acho que vamos conseguir fazer (a vacinação) todos juntos, mas se não conseguirmos, tenho uma responsabilidade com a cidade do Rio de Janeiro, que é começar a vacinar o quanto antes. Governadores, prefeitos e ministro da Saúde precisam dar as mãos neste caminhar, e a própria Presidência, para que tenha a vacina o quanto antes e consiga salvar vidas”, frisou Daniel, acrescentando que a expectativa é vacinar 2,8 milhões de pessoas rapidamente no Rio de Janeiro.

Daniel Soranz afirmou que houve erros de planejamento gravíssimos no combate à pandemia na cidade, inclusive “desconsiderando as áreas técnicas, a parte científica, para a tomada de decisões”. E citou como equívoco os investimentos nos hospitais de campanha de alta complexidade. De acordo com Soranz, o caminho era investir em leitos nas estruturas de unidades já existentes (federal, estadual ou municipal). Além disso, criticou a atuação da Vigilância Epidemiológica e a falta de um plano de comunicação para orientação das pessoas. “Cada ente federado jogava uma informação diferente, e isso certamente confundiu muita a população. Faltou comunicação mais uniforme”.

Ele ressaltou a importância da Atenção Básica como papel estratégico no controle e no combate de qualquer disseminação de doença, mas lembrou que foi “praticamente ignorada” na pandemia do novo coronavírus no município do Rio.

Em relação à testagem, Daniel classificou como vergonhoso o valor de R$ 300 para realização de um teste. Ele revelou que, no primeiro dia de mandato, a nova direção municipal lançará um aplicativo de autonotificação e, assim, “colher com as esquipes de Saúde da Família a força da Atenção Primária para criar a capacidade de testagem no Rio”.

O futuro secretário municipal do Rio revelou ainda que os estoques de medicamentos da atual gestão municipal estão em níveis críticos, abaixo de 10% até 6 de janeiro de 2021. “Na transição (de governo) temos ajudado a Prefeitura atual a conseguir doações e receber medicamentos de outros hospitais. É muito grave a ausência total de planejamento orçamentário. Foram gastos milhões de reais em hospitais de campanha e compra de equipamentos caríssimos, e coisas básicas foram retiradas, como os medicamentos mais baratos”.

Para enfrentar futuras epidemias, Daniel Soranz sugeriu preservar a memória institucional dos órgãos de saúde pública. Ele lembrou que o Sistema de Saúde Único tem um vasto conhecimento acumulado nas epidemias de dengue, zika, chikungunya e gripe (H1N1), mas não foi utilizado na atual pandemia. “Parece que o governo do Rio esqueceu completamente o que os servidores e toda a equipe da Secretaria da Saúde viveram neste tempo. (...) Se quisermos deixar um legado, precisamos documentar, gerar produção científica avaliando estes processos durante o período, e deixar registrado para os próximos gestores para não cometerem os mesmos erros da pandemia de 2020”.

Sobre o desmonte do SUS, Daniel fez uma analogia usando o conceito de banalidade do mal da filósofa alemã Hannah Arendt. “Judia, morava em Nova York, e foi ao julgamento de um soldado alemão. E ele disse que não matou ninguém, só embarcava as pessoas no trem para o campo de concentração. Ele sabia que as pessoas iam morrer, mas dizia que estava cumprindo uma ordem. Não dá para seguir ordem de desmontar um sistema de saúde e aceitar um sistema subfinanciado, de cortar serviços básicos. Não tem como aceitar isso”.

O presidente da Asfoc, Paulo Garrido, perguntou como se dará a questão da gestão das Organizações Sociais (OSs) na saúde do município do Rio. Soranz pediu um olhar cuidadoso para a questão, porque existem modelos de gestão diferentes, permitindo ofertas de serviços de qualidade para a população. “Mas existem OSs que são empresas travestidas de organização social. Pessoas que não são da sociedade civil que querem ter lucro, às vezes, de maneira inidônea, com o SUS. Tem que separar o joio do trigo. (...) Como todos os modelos têm prós e contras, e se não equilibrar os modelos de OSs, de empresa pública, de fundações com servidores públicos, vamos ter muitas dificuldades de manter esse sistema funcionando”.

Paulinho se despediu da última live do ano – que contou com a jornalista convidada Antônia Marcia Vale (TV Senado) -  afirmando ter o “mesmo compromisso e comprometimento” no triênio 2021-2023, quando será o vice da Diretoria Executiva Nacional.

Em sua mensagem final, Mychelle desejou um feliz ano novo, com vacina para todos, e citou o educador e filósofo Paulo Freire. “É preciso ter esperança do verbo esperançar. “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!   Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

O debate virtual foi encerrado com uma singela homenagem à equipe de trabalho da Asfoc-SN (card).

 

Acesse o link e assista ao evento digital na íntegra: https://www.facebook.com/asfocsn/posts/3739028782823631

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