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Manifesto da Asfoc-SN à população brasileira no Dia Mundial da Saúde

07/04/2021

Manifesto da Asfoc-SN à população brasileira no Dia Mundial da Saúde

No Dia Mundial da Saúde, a Asfoc - sindicato das trabalhadoras e trabalhadores da Fiocruz - estaria muito feliz em comemorar a conquista de uma vida saudável para todos. Vida plena, criativa e realizada em todo o seu potencial.

No entanto, essa não é a nossa realidade. Ao contrário, vivemos um período muito triste da nossa história. Centenas de milhares de vidas foram perdidas, vidas que poderiam ter sido salvas, não fosse a irresponsabilidade e o descaso com que o governo Bolsonaro tratou, e vem tratando, a pandemia e a população brasileira. Como resultado estamos mergulhados em uma crise humanitária sem precedentes.

Mesmo antes da chegada do coronavírus em nosso território, já sofríamos com a crise econômica decorrente de uma economia excludente, que batia recordes de desemprego, falências e precarização das relações trabalhistas. Já tínhamos voltado ao mapa da fome. Basta lembrar que, em 2019, o IBGE constatou que 25% dos brasileiros viviam com até R$ 406,00 reais por mês. Uma situação que a covid-19 veio a agravar.

O Brasil ficou mais triste. Entramos em uma trajetória de destruição, ódio e autoritarismo. Negacionismo, censura, mentira, fanatismo, ataques à ciência e violência passaram a ocupar o nosso cotidiano. Perdemos o caminho da construção, da solidariedade. Perdemos o brilho da alegria. Fomos tragados pelas forças do obscurantismo. A estupidez substituiu o debate franco e respeitoso.

Vivemos, sim, uma polarização acirrada. Uma polarização entre a civilização e a barbárie. Um embate entre as forças da vida e as forças da morte. Entre o impulso criativo e a apatia. O fascismo nos ameaça.

Os servidores da Fiocruz sempre estiveram, e sempre estarão, a favor de uma vida saudável, de oportunidades iguais e condições dignas para todos. Integramos com muito orgulho e dedicação a linha de frente no combate à pandemia. Entretanto, assim como a população brasileira, não somos poupados em nenhum momento pelos ataques do governo Bolsonaro aos nossos direitos e à nossa reputação.

Em meio à maior crise humanitária de nossa história, as prioridades de Bolsonaro e Paulo Guedes parecem ser outras. Lutam para retirar as necessidades da população do orçamento. Estão empenhados em liberar recursos nacionais para o dreno do mecanismo da dívida que alimenta o setor financeiro rentista. Um segmento que não produz e não emprega. Buscam estabelecer um regime político sem oposição. Um regime de silêncio e subserviência. Flertam com o totalitarismo e com grupos odiosos, como os defensores da supremacia branca. Buscam o caminho da desordem e do caos, incitando sublevações, a quebra da hierarquia e desrespeito à Constituição. Constituição que estão destruindo sem mandato constitucional pelo uso abusivo de PECs. Agem contra o esforço nacional e o pacto federativo, tentam criminalizar e coibir a ações dos governadores e prefeitos.

Vivemos em um país rico, que despertou a cobiça de grupos econômicos poderosos e o entreguismo venal de parte de nossa elite. Um país de proporções continentais que bate recordes de produtividade agrícola e pecuária, mas que convive de modo bastante agressivo com sem-terra e com grande complacência e indiferença ante o dantesco espetáculo de gente vasculhando o lixo para achar o que comer. Em meio a à riqueza somos uma nação de famintos e de gente sem teto. Não precisávamos passar por isso. O país tem recursos. Falta vontade política para implementar um auxílio emergencial decente. A fome e a miséria estão longe das prioridades de Bolsonaro e Guedes.

Somos hoje um país dirigido por gente que não zela pelo seu povo. Pelo seu futuro. Um país da exploração predatória e imediatista, que destrói o meio ambiente com queimadas; rompimentos criminosos de barreiras de rejeitos minerais; garimpos clandestinos e o envenenamento da comida e dos rios por agrotóxicos. Um país com gente que fura filas. Que se recusa a usar máscaras e tem o hábito de dar carteiradas.

As estruturas de atenção à saúde estão em colapso. Insumos cruciais como oxigênio e sedativos para intubação começam a dar sinais de desabastecimento. Enfrentamos ainda, o esgotamento físico e emocional das equipes da linha de frente e a possibilidade de experimentar a falta de pessoal qualificado diante do aumento da demanda sobre os serviços de saúde. Um quadro que se agrava e pode incluir também uma séria crise nos serviços funerários.

A péssima gestão da pandemia, ao permitir a livre circulação do vírus, agravou em muito as nossas fragilidades. Nenhum país do mundo geriu de forma tão temerária e irresponsável a crise sanitária como o nosso. Estão aí os números para quem quiser conferir. Perdemos em todos os quesitos: número de mortos por fração da população; taxa de crescimento do quantitativo de novos casos e óbitos; evolução da vacinação, entre outros. Perdemos por condenar a maioria da população ao abandono. A morar nas ruas sem amparo do Estado e sem perspectivas de futuro. Não chegamos à posição de epicentro mundial da pandemia à toa. Não caímos da 6ª posição do ranque das economias mundiais para a 12ª por acaso.

Os números de 2021 são o retrato de uma tragédia anunciada. Todos os índices negativos relacionados à calamidade sanitária, ao desempenho da economia e à crise social foram amplamente ultrapassados. Atingimos a cifra de 321 mil óbitos em março e espera-se que em junho este número chegue a 500 mil se nada for feito para evitar a escalada da morte. Nos últimos dias, alcançamos o impensável patamar de 20 mil mortes por semana. Um número que não para de crescer.

A solução da crise sanitária está longe de ser alcançada. Arrefecidos os primeiros ímpetos destrutivos da pandemia, nos restará a necessidade de atendimento de uma enorme demanda reprimida e também das desconhecidas sequelas da covid-19. Isso sem mencionar a possibilidade de reinfecções, mesmo entre vacinados, e o surgimento de variantes mais contagiosas, mais letais e fora do escopo de proteção fornecido pelas vacinas atuais. É preciso lembrar ainda que temos uma grande parcela da população composta de jovens e crianças que levará mais tempo para ser vacinada.

Testemunhamos o crescimento acelerado e exponencial da concentração de renda e da desigualdade. Uma desigualdade econômica, marcada também por discriminações de raça, gênero e orientação sexual. Uma desigualdade indecente e injustificável.

Estamos submetidos à destruição da capacidade de reação dos entes econômicos e do Estado. É difícil projetar com precisão o tamanho, as consequências e a duração da calamidade que nos atingiu. Provavelmente vamos levar anos para nos recuperar do estrago que a incúria e um projeto econômico social e ambientalmente desastroso e injusto está causando. Vamos levar anos para nos recuperar desse verdadeiro assalto aos recursos socialmente produzidos. Vamos levar anos para recuperar nossa estrutura de ciência, tecnologia e indústria. Vamos levar anos para nos recuperar dos danos sociais e ambientais perpetrados em tão curto espaço de tempo.

A fada da confiança não virá. Em seu lugar estarão os comensais da morte, os abutres da predação e a bruxa da recessão e da inflação. Uma crise estrutural sem precedentes e que deve perdurar por um longo período, corroendo o nosso presente e o nosso futuro. Estamos falando de gente com sonhos e potencialidades ceifadas. Estamos falando de vidas interrompidas. Estamos falando da orfandade e do abandono de milhões de brasileiros.

Precisamos implementar urgentemente ações estruturantes contra a fome e a miséria. Precisamos fortalecer o SUS, garantindo um orçamento condizente com as necessidades do país. Precisamos intensificar as ações de solidariedade e despertar as consciências sobre as proporções da tragédia que atingiu o país. Precisamos dar um basta às tentativas de quebra da institucionalidade.

Definitivamente, o Brasil, um dos últimos países a abolir a escravidão, não foi, e não tem sido, mãe gentil dos seus filhos. Precisamos abandonar o rumo da barbárie, do obscurantismo, da censura, do autoritarismo e do fanatismo. Precisamos derrotar a ameaça do fascismo e as destrutivas políticas neoliberais que nunca produziram bem-estar social em país algum. Para os países ricos, desenvolvimentismo, para os pobres, arrocho fiscal.

Não existe desenvolvimento sem responsabilidade social e ambiental. As políticas sociais não são dádivas, são poderosos instrumentos de dinamização da economia. Prover o bem-estar deve ser a prioridade de qualquer projeto econômico minimamente decente. Necessitamos urgentemente romper as bolhas de ignorância, encurtar as distâncias, distribuir renda, fortalecer o mercado interno e buscar construir um país democrático, soberano, inclusivo e sustentável. Resta saber se seus filhos não fugirão à luta.

Somos a Asfoc-SN, somos a Fiocruz, somos o SUS.

Executiva Nacional e Coordenações Regionais da Asfoc-SN

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