Por conta principalmente dos governantes, que quase sempre desrespeitaram as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil hoje está no epicentro da pandemia do coronavírus. “Há cerca de três meses são registradas mil mortes diárias. O Brasil, desde o início da epidemia, nunca respeitou realmente a principal estratégia que apontava a Ciência para o enfrentamento do vírus; o distanciamento social. Na média nacional, o país ficou sempre abaixo dos 50% de isolamento. E, hoje, só perdemos em números de mortes para os Estados Unidos”.
A afirmação foi feita ontem (22/09) pelo professor titular da Fiocruz e diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), Hermano Castro, durante live da Asfoc-SN sob o tema “Saúde e Produção de Conhecimento”.
Segundo ele, a tragédia só não é pior por conta do Sistema único de Saúde. “Se não fosse o SUS, que mesmo sendo historicamente subfinanciado - e recentemente desmontado pelo atual governo -, teríamos registros ainda piores”.
Mesma opinião do doutor em Bioquímica e diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), José Paulo Gagliardi Leite, outro palestrante do evento virtual transmitido ao vivo pelos canais de comunicação do Sindicato.
Ele enalteceu a capacidade dos servidores públicos neste momento tão complicado da nossa história. “Temos orgulho de servir ao público, respondendo às demandas, mesmo com todas as dificuldades impostas”.
José Paulo apresentou dados do IOC, que demonstram uma série de ações do Instituto desde o início da Pandemia. Dentre elas, o registro inédito da infecção do novo coronavírus em célula, o treinamento para o diagnóstico laboratorial de mais de uma dezena de laboratórios centrais de saúde pública e a investigação da ação dos medicamentos antivirais, entre muitas outras.
A vice-presidente da Asfoc, Mychelle Alves, lembrou que os dois palestrantes representavam duas das principais Unidades da Fiocruz e os cumprimentou, em nomes dos trabalhadores, pelos serviços prestados. “Quero aqui deixar meus parabéns pelos recentes aniversários de 120 anos do IOC e os 66 da Ensp. Uma bela história feita pelos trabalhadores dessas duas Casas”.
O presidente da Asfoc, Paulo Garrido, ressaltou a importância do debate e a expectativa da sociedade em relação ao trabalho desenvolvido pela Fiocruz. “Nós da Asfoc consideramos que a população confia e espera muito da Fiocruz. Espera que daqui saia uma parte significativa das respostas para a resolução da crise que nos atinge. E não estamos falando somente da vacina, uma conquista crucial certamente. Falamos também da nossa capacidade de formular respostas em outras áreas.
Estamos falando, por exemplo, a inclusão das políticas sociais como fator de dinamismo econômico. Falamos aqui, da inclusão do saneamento básico, da urbanização das comunidades e do investimento em infraestrutura como estratégia redistribuição dos recursos socialmente produzidos e de combate ao desemprego.
Estamos falando do fortalecimento da atenção básica, de renda mínima permanente.
Estamos falando da utilização do poder de compra do Estado para obter transferência de tecnologias e alavancar um desenvolvimento industrial articulado com as nossas universidades e centros de pesquisa. É preciso articular bem-estar social, ciência tecnologia, indústria e demandas sociais, incluindo a defesa da soberania”.
Paulinho anunciou também a programação da próxima live da Asfoc-SN, na terça-feira que vem (28/09). Como palestrantes principais Carlos Gadelha, economista e pesquisador da Fiocruz, e o ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
