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[novembro/dezembro de 1999]
Editorial
Coluna Jurídica
Fiotec
Retrospectiva
Traduzindo o economês
Espaço Unifoc
Cartas do Leitor
Previdência e perversidade
Morte e Vida Dorcelina
EDITORIAL
Um ano de muito
trabalho
O ano está terminando e entraremos em 2000 ainda
cheios de expectativas sobre a liberação do Bresser, a inclusão
da C&T entre as carreiras exclusivas de Estado, sobre
o papel que a Fiotec terá na existência da Fiocruz e a transformação
da Instituição em Agência Executiva. Muitas questões ainda
precisam ser definidas, mas nossas expectativas não são as
de quem espera acontecer. Ao longo deste ano, a Asfoc encaminhou
e deu continuidade a lutas que, mesmo contra a nossa vontade,
há muito tempo fazem parte de nossa pauta de objetivos a serem
alcançados. O governo FHC tem sido impiedoso com os servidores,
mas a comunidade da Fiocruz tem se mobilizado e encontrado
forças para continuar brigando por um serviço público de qualidade
e melhores condições de vida e trabalho para todos.
Plano Bresser
Sem dúvida, este ano foi decisivo nas negociações
pelo Bresser. Assumimos uma postura mais ofensiva e a Advocacia
Geral da União, que sempre tentou nos intimidar com sua capa
de poderosa inimiga, foi enfrentada e teve seus cálculos contestados
por argumentos e documentos levantados pela ASFOC.
Além disso, fizemos o Ministério da Saúde tomar
ciência das vergonhosas investidas de advogados que se aboletaram
na Fiocruz para comprar os precatórios indvidualmente e se
beneficiar da carência financeira de alguns servidores. Alertamos
para a gravidade desta situação internamente e os prejuízos
que recairiam sobre o MS se o episódio fosse exposto à opinião
pública.
Durante meses, recebemos telefonemas ameaçadores
e tivemos que agir com muita cautela para dispensar dezenas
de advogados que se mostravam interessados apenas em ludibriar
nossa comunidade. E, apesar de realizarmos mais de 20 assembléias
em 1999 e matermos os servidores semanalmente informados sobre
cada passo das negociações, não raras vezes nos vimos envolvidos
em boatos dentro de nossa própria Instituição.
Agora, com a contratação de um novo escritório
para atuar administrativamente na liberação do pagamento dos
precatórios, esperamos ter êxito e fechamos este ano com a
sensação de que saímos da condição de vítimas passivas para
a de trabalhadores que lutam obstinadamente por seus direitos
Fiotec
No futuro da Fiocruz está o nosso futuro. Por
isso, como representantes dos servidores, estamos acompanhando
detalhadamente todos os passos da implantação da Fundação
de Apoio. Mais que isso, somos atores neste processo. Editamos
um jornal especial informando a toda comunidade sobre os riscos
a que nossa Instituição estará exposta, dependendo dos parâmetros
que venham a regulamentar o funcionamento da Fiotec.
Nossa preocupação com a imagem da Fiocruz é
tanta que, para dividí-la com a população, colocamos de frente
para a Avenida Brasil um outdoor mostrando que "aqui
se trabalha em defesa da saúde da população".
Causas Trabalhistas
É verdade que a "Justiça"não tem sido
muito "justa" com o servidor público e que a tão
defendida autonomia entre os Três Poderes parece estar cada
vez mais subjugada aos interesses de organismos internacionais
que sustentam o neoliberalismo. Mesmo assim, acreditamos que
o caminho judicial é importante para reavermos nossos direitos
trabalhistas. Por isso, logo no início do ano, trocamos nossa
equipe jurídica por um escritório com maior experiência neste
setor e que traz no currículo importantes vitórias em defesa
da categoria.
Com a nova assessoria jurídica, já conseguimos
sentença favorável na ação contra a criação e o aumento da
alíquota do PSSS dos servidores da ativa e aposentados e,
a cada dia, mantemos uma postura de pressão sobre a Fiocruz
para que sejam cumpridas as sentenças favoráveis à nossa comunidade.
Este é o caso dos 28,86%. Não vamos descansar enquanto o precatório
para o pagamento dos atrasados não estiver prescrito no Orçamento
da União, pronto para ser pago aos trabalhadores.
Com esta mesma perseverança, através do enfrentamento
judicial, estaremos agindo todas as vezes que nos sentirmos
lesados pela União. Prova disso está nas ações contra a cobrança
da CPMF da conta-salário do servidor e do desconto previdenciário
no 13º salário.
Valorização da Carreira
de C&T
O engajamento político e a busca de apoio parlamentar,
que levaram a Diretoria anterior à conquista da GDCT, foram
mantidos com afinco ao longo de 99. Integrados ao Fórum de
C&T, estivemos dezenas de vezes em Brasília lutando e
reivindicando que o Governo reconheça a importância da carreira
para o bem-estar da população e para a garantia da soberania
nacional. Neste sentido, continuaremos tentando sensibilizar
os parlamentares a aprovar a emenda que inclui a C&T no
Projeto de Lei Complementar 43/99, que define as carreiras
exclusivas de Estado e proporciona tratamento diferenciado
no âmbito da Administração Pública Federal.
Além disso, uma das principais lutas para o
próximo ano será a aprovação dos pontos pendentes da GDCT
que incluem a equiparação do valor que recebemos ao pago pelas
GDPs de outras carreiras, o fim da obrigatoriedade de
Dedicação Exclusiva e a extensão da gratificação para os servidores
de Nível Auxiliar. Diante da falta de perspectiva de um reajuste
salarial, garantir a aprovação destes projetos significa viabilizar
um ganho justo e real para os servidores de C&T.
Eventos esportivos e
sociais
Paralelamente às lutas políticas, intensificamos
o intercâmbio com profissionais externos, para proporcionar
ao nosso associado um convívio comunitário mais agradável
e enriquecedor. O Departamento Sócio-Cultural atendeu às principais
demandas, disponibilizando curso de inglês, dança de salão
e aulas de Ioga, todos com preços reduzidos. As festas comemorativas
tiveram sua organização caprichada e trouxeram à ASFOCartistas
de primeira linha, como Carlinhos de Jesus e Flávio Venturini.
O Departamento esportivo, por sua vez, ampliou
os horários da musculação e da ginástica e, além dos habituais
campeonatos internos, promoveu a reedição das Olimpíadas ASFOC.
Com esta breve retrospectiva, a ASFOC deseja
a toda Fiocruz um Ano Novo cheio de disposição para conquistarmos
juntos um futuro melhor.
Feliz Ano 2000!
A Diretoria
Retorna
COLUNA JURÍDICA
ASFOC
entra com ação contra desconto
previdenciário no 13º salário
Em mais uma de suas manobras contra o trabalhador,
o Governo Federal descontou 11% do 13º salário do funcionalismo
público, referentes à seguridade social. Como a primeira parcela
do 13º foi paga no meio do ano, o desconto incidiu integralmente
sobre a segunda metade, tornando ainda menor o que já era
minguado.
A medida é inédita e, segundo o Advogado da
ASFOC, Arão da Providência, fere as regras estabelecidas no
Regime Jurídico Único (RJU). O comunicado, quase sigiloso,
do Ministério de Orçamento e Gestão (que incorporou o ex-Mare),
emitido no dia 18 de novembro, pegou de surpresa os advogados
dos sindicatos e associações que representam os servidores.
A ASFOC vai entrar, até meados de dezembro,
com um Mandado de Segurança para conseguir a devolução, ainda
em janeiro, do desconto ilegal.
Em alguns Estados, os juizes já se posicionaram
contrariamente ao Governo. O Sindicato dos servidores da Polícia
Federal, por exemplo, conquistou, junto à 4ª Vara Federal
de Brasília, uma liminar impedindo o desconto no 13º salário
de seus servidores.
Além disso, o Mandado de Segurança movido pela
ASFOC tentará, também, diminuir a alíquota de Imposto de Renda
que incidiu sobre o 13º salário. Isso porque o Governo juntou,
propositadamente, todos os pagamentos no mês de dezembro,
para conseguir uma dentada maior do Leão.
O Advogado da Asfoc argumentará que o 13º salário
não representa uma renda adquirida em um único mês, mas uma
complementação referente aos 12 meses do ano. Por isso, não
pode ser considerado o valor total para definir a alíquota
do Imposto de Renda a ser aplicada.
A resposta deve sair até o fim do mês.
28,86%:
Começam os cálculos
dos atrasados
Sentença só beneficia quem não assinou acordo com
o Governo
Está cada vez mais próximo ocumprimento da sentença,
conseguida através da ação judicial movida pelo Sindsprev,
que determina o pagamento dos atrasados e a incorporação dos
28,86% integrais no contracheque do servidor.
O juíz da 12ª Vara, Dr. Roy Reis Friedes, determinou
a remessa dos autos ao contador da Justiça para que sejam
calculados os atrasados referentes aos 28,86%, tomando como
base o período entre abril de 93 e agosto de 1998.
A boa notícia, entretanto, só atinge aqueles
servidores que não assinaram o acordo com o Governo, abrindo
mão das ações judiciais contra a União.
Segundo o Advogado da Asfoc, Arão da Providência,
a determinação do Juíz mostra que o processo está bem adiantado
e permite até incluir este montante no Orçamento da União,
já para junho do ano 2000, para que seja pago efetivamente
em 2001.
Para que isso aconteça, mesmo com a sentença
determinando o pagamento integral dos 28,86%, a assessoria
jurídica da ASFOC deverá apresentar os cálculos de acordo
com os percentuais que o Supremo Tribunal Federal (STF) já
considerou devidos.
A vantagem é que o dinheiro será pago a vista
e corrigido como manda a Justiça: com UFIR + 6% ao ano. A
polêmica fica por conta do caso dos servidores em final de
carreira, de Nível AIII, que em sua maioria, de acordo com
os cálculos do Governo, não terão direito ao atrasado.
Arão lembra que contestar os cálculos do Governo
pode motivar a entrada de uma ação rescisória, por parte da
Fiocruz, suspendendo a execução da sentença. "Além disso,
se o STF julgar contrariamente aos servidores, ainda há o
risco da sucumbência, onde teremos que reembolsar a diferença
aos cofres públicos", explica.
Quanto à sentença de incorporação salarial dos
28,86% para todos, a Fiocruz se mantém na mesma postura de
não cumprir a decisão judicial. Mesmo assim, a Assessoria
Jurídica da Asfoc decidiu, estrategicamente, não tomar qualquer
medida jurídica enquanto o processo não voltar do contador.
Desconto
previdenciário: vitória confirmada
A Assessoria Jurídica da ASFOC conseguiu uma
sentença final confirmando a liminar que impedia a criação
e o aumento do desconto da Previdência para os aposentados
e servidores da ativa da Fiocruz, respectivamente.
Segundo Arão da Providência, a conquista dá
alguma esperança de que o Supremo Tribunal Federal (STF) pode
manter-se solidário ao funcionalismo público, neste longo
e inseguro período de reforma previdenciária. "Sabemos
que o Governo não vai deixar a categoria em paz, mas esta
vitória nos anima a continuar a batalha judicial", diz
Termina o prazo para
autorizações dos cinco níveis
O Departamento Jurídico da ASFOC vai encerrar,
no dia 20 de dezembro, o recebeminto de documentação e o recolhimento
de assinaturas para as autorizações relativas à ação que busca
recuperar as perdas referentes aos "cinco níveis",
concedidos pelo Governo em fevereiro de 1992. Os servidores,
que na época estavam em final de carreira e, portanto, no
topo da tabela, receberam o aumento pago como "Diferença
Individual". Em maio de 1996, o Governo cortou essa
rubrica do contracheque, não retornando até hoje.
Por isso, os servidores que foram lesados com
a retirada da rubrica "Diferença Individual",
e ainda não compareceram à ASFOC, devem fazê-lo com máxima
urgência, levando:
02 CONTRACHEQUES DO PERÍODO ANTERIOR (até jan/92)
E POSTERIOR (ATÉ ABRIL/96) À CONCESSÃO DO REAJUSTE; 02 CONTRACHEQUES
DO PERÍODO POSTERIOR À RETIRADA DA RUBRICA (A PARTIR DE MAIO/96)
e o NÚMERO DO CPF. Não será necessário reconhecer firma.
CPMF:
STF complica a ação da ASFOC
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal,
considerando legal a cobrança da CPMF dos servidores públicos,
jogou um balde de água fria nas ações movidas pelos sindicatos
e associações representantes do funcionalismo em todo país.
No caso da ASFOC, o pedido de liminiar suspendendo
o desconto foi feito no final de julho, pelo advogado Arão
da Providência, através de ação movida pelo Sindsprev.
Tramitando na 8ª Vara Federal, o processo não
foi sequer julgado e, segundo Arão, com base na decisão do
STF, a Juíza não deverá conceder mais nenhuma liminar favorável.
Retorna
Fiotec: entre
a lógica do mercado e o atendimento à população
A Asfoc tem insistido na necessidade de muita
atenção e cuidado na definição da relação entre a Fiocruz
e a Fiotec, a Fundação de Apoio que está sendo criada para
dar maior agilidade na captação e utilização de recursos pela
Instituição. Na reunião do CD Fiocruz, realizada nos dias
22 e 23 de novembro, a Associação voltou a expressar sua preocupação
com o risco de que se repitam na Fiocruz os fatos que já mancharam
a reputação de diversas instituições, relativos à utilização
de recursos públicos para a compra de materiais e contratação
de serviços sem licitação, além de complementação salarial
de servidores. A Asfoc apresentou a proposta de que a Fiotec
gerenciasse apenas os recursos captados junto ao setor privado
e que os recursos públicos continuassem a ser alocados na
própria Fundação, sendo utilizados estritamente de acordo
com as normas da administração pública. Foi voto vencido,
contra os demais onze membros do CD presentes à reunião.
Um dos principais argumentos utilizados para
derrubar a proposta da Asfoc, foi a suposta exigência de uma
Fundação de Apoio para que as instituições públicas recebessem
recursos de programas do governo, como o PADCT e o Pronex.
A Asfoc consultou a Assessoria de Planejamento da Fiocruz,
para saber a base legal da exigência e o montante arrecadado
através dos programas citados como exemplo contra a sua proposta.
O resultado da consulta põe em dúvida a argumentação apresentada.
Na realidade, a Lei Nº 8.958/94 - que dispõe
sobre as relações entre as instituições federais de ensino
superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações
de apoio aponta exatamente para a direção oposta ao
argumento apresentado na reunião do CD. No seu artigo 3º,
a Lei diz que "na execução de convênios, contratos, acordos
e/ou ajustes que envolvam a aplicação de recursos públicos"
as fundações de apoio são obrigadas, entre outras exigências,
a "observar a legislação federal que institui normas
para licitações e contratos da administração pública, referentes
à contratação de obras, compras e serviços". Quer dizer,
seja através da Fiotec ou de seu próprio gerenciamento, terão
de ser observados os mesmos procedimentos adotados pela Fiocruz
até agora.
Em relação à exigência de uma Fundação de Apoio
para receber recursos do PADCT e Pronex, a Asplan disse desconhecê-la.
Ao contrário, do Pronex vigoram, desde de 1997 e até 2001,
dois convênios com o IOC, um sobre "Genoma de Parasitas"
(R$ 802 mil) e outro com o título de "Mecanismos Moleculares
de Regulação da Expressão Gênica e da Patogenicidade de T.
Cruzi: Novas Perspectivas para a Quimioterapia de Doenças
Parasitárias" (R$ 950 mil). Com o PADCT, a Fiocruz já
tem um convênio assinado, a ser executado por Bio Manguinhos,
e está prestes a receber recursos para a "obtenção em
escala industrial (150 mil testes/ano) de kit diagnóstico
para Doença de Chagas utilizando antígenos recombinantes".
O valor do convênio é de R$ 215 mil.
Somados, os convênios com os dois programas
da FINEP, citados como exemplo na reunião do CD, não chegam
a 2% do orçamento anual da Fiocruz. Além disso, foram firmados
com a Fundação, em 1999, convênios e termos aditivos de receita
nacional no valor de quase R$117 milhões. Os convênios e termos
aditivos com receita advinda de agências internacionais estão
divididos da seguinte forma: Unesco, cerca de R$ 28 mil; OMS,
US$ 21 mil; Comunidade Européia, ECU 149 mil. Recursos arrecadados
sem a criação de uma Fundação de Apoio.
FUNDAÇÃO DE APOIO:
SAÍDA OU FUGA?
No Brasil, da "globalização", vivemos
procurando saídas para resolver problemas que parecem fugas
de algo que nós mesmos criamos. O Governo Federal (e aí independe
qual dos Fernandos) alardeou que a obrigação do "Estado"
é atender as áreas sociais, saúde e educação fundamentalmente
e para isto teria que vender as Estatais. E o que aconteceu?
Vendeu nosso patrimônio e não investiu nas áreas sociais,
até porque a Dívida Externa "precisava" ser paga.
Agora afirma que conseguirá resolver a questão social, cobrando
do funcionário público e dos idosos uma maior contribuição
previdenciária, afirmando que estes são verdadeiros abastados.
Paralelamente, as empresas públicas e a FIOCRUZ
em especial encontram a grande saída para "ludibriar"
a sua total incapacidade de unir a competência com a agilidade
administrativa e com a economia, criando a famosa Fundação
de Apoio.
Parece que aí, merece que façamos alguma análise
a respeito dos nossos dois últimos agentes.
A criação das Leis de licitação, foi algo que
não foi pensado para ser contra a agilidade, mas sim, para
possibilitar que fosse um instrumento que ligasse a livre
concorrência com equidade e a ética. Como fugir disto? Lutando
pela descentralização administrativa e a melhoria da gestão,
não andando para o século passado e colocando o Gestor no
cargo de Imperador todo poderoso.
Quanto à economia, ela está ligada a boas pesquisas
de mercado e a um planejamento das atividades e das priorizações,
além é óbvio da grande competência que não passa neste momento
por comentários.
Certamente na Fiocruz nós não queremos seguir
os passos do Governo Federal, que a cada ação finge que resolve
a grande penúria que o país atravessa, não enfrentando a verdadeira
causa, que é fazer uma política soberana e voltada para a
solução dos reais problemas da população.
Companheiros, o grande problema do Serviço Público
não será resolvido com a criação de uma Fundação da "galinha
dos ovos de ouro", mas sim travando a luta política pautada
nos seguintes temas:
Valorização do servidor público com
treinamento e salários dignos. Política clara de priorização
de investimentos e garantia do patrimônio público.
Metas claras a serem cumpridas e cobradas.
E ai, não cabe o discurso derrotista de que
a "globalização" venceu, pois isto cria a ilação
de que o público perdeu. Portanto, a Fundação de Apoio não
me parece ser uma saída, mas na verdade uma fuga da luta política
que está posta na sociedade, que é: O que na verdade é público
ou privado? E não será privatizado e/ ou individualizando
que conseguiremos melhorar o serviço público, e não é fugindo
mas sim lutando pelas melhores condições de trabalho para
servir à população.
André Luiz E.Lopes
Engenheiro - DIRAC
Retorna
RETROSPECTIVA
Inflação no Real
devora 58%
do salário do servidor
O servidor público precisaria de um reajuste
salarial de 58% para recompor o poder de compra que seu salário
tinha em 1995, quando o Plano Real entrou em vigor. O cálculo
é do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Sócio-Econômicos (Dieese), com base no Índice de Custo de
Vida (ICV), que registrou uma alta de 80% no mesmo período.
Caminhando para o sexto ano sem reajuste ou
pelo menos a expectativa de que isso possa acontecer, o funcionalismo
público vem sendo duramente atingido pela explosão de preços
e o aumento das tarifas públicas. Segundo o Técnico do Dieese,
Ilmar Ferreira, a categoria vive um empobrecimento contínuo,
que reduz drasticamente o padrão de vida e, em muitos casos,
provoca uma migração da classe média para a baixa. "Só
com a educação de seus filhos, o servidor está gastando hoje
192% a mais do que no ano passado. Certamente, para sustentar
este gasto, ele teve que fazer cortes em outras áreas consideradas
supérfluas, como lazer", avalia.
A adaptação a um nível de vida mais baixo e
as dificuldades financeiras têm levado os servidores aos consultórios
médicos. A psicóloga e consultora especializada em instituições
públicas (entre elas Furnas e Biblioteca Nacional), Ana Maria
Pires, afirma que, com arrocho salarial, os "distúrbios
psicológicos" se tornaram a maior causa de afastamento
dos servidores de suas unidades de trabalho. "No diagnóstico,
constatamos que a maioria dos casos foi gerada ou agravada
pela falta de dinheiro", explica.
Além da perda do poder aquisitivo , o servidor
convive há cinco anos com a desmoralização política e profissional,
um mal igualmente danoso. Em sua fúria para atender o receituário
neoliberal, o governo de Fernando Henrique Cardoso intensificou
o processo de "privatização do Estado", sustentado
por uma campanha nacional que elegia o funcionalismo como
o grande culpado pela crise brasileira.
Para se ter uma idéia da pressão exercida sobre
os servidores, segundo pesquisa do Departamento Intersindical
de Assessoria Parlamentar (Diap), até junho de 1999, o governo,
por Medida Provisória ou Projeto de Lei, já havia suprimido
mais de 50 direitos, vantagens ou liberdades da categoria.
Entre os quais destacam-se a proibição de concursos públicos
e o incentivo à demissão voluntária; a regulamentação restritiva
das carreiras exclusivas de Estado; a eliminação de incorporação
de anuênios e a negação da data-base, sem o reajuste devido.
Sem GDCT e Bresser seria ainda pior
Diante das manobras do Governo para promover
o desmonte do serviço público, a estratégia adotada pela ASFOC
para reaver os direitos dos servidores da Fiocruz foi realizar
um intenso trabalho político dentro e fora da Instituição.
Internamente, a incorporação no salário dos
servidores de passivos funcionais como o Plano Bresser (desde
1995) e as diferenças de titulação e promoção representaram
importantes vitórias. Externamente, em conjunto com o Fórum
de C&T, todos os esforços foram empenhados para a conquista
da GDCT, que representou um ganho de até 30% sobre o salário
dos servidores.
Atualmente, o trabalho de articulação parlamentar
da Diretoria da ASFOC tem como principais alvos a valorização
da carreira de C&T, através de seu reconhecimento como
sendo Exclusiva de Estado e a aprovação dos pontos pendentes
da GDCT, que são a equiparação com os valores das GDP's de
outras carreiras, sua extensão para os servidores de nível
auxiliar e o fim da obrigatoriedade de Dedicação Exclusiva.
Isso significa muito trabalho pela frente!
Acompanhe a
subida de preços no Real
192%
- Educação
Este foi o setor que mais reajustou seus preços,
em função dos aumentos das escolas e universidades particulares.
A prática de tamanho abuso de preços foi possível, na análise
do Dieese, graças à precariedade do ensino público.
137,6
% - Saúde
As maiores altas aconteceram a partir de janeiro
de 96. Os medicamentos e produtos farmacêuticos aumentaram
seus preços sistematicamente acima da inflação (111,57%).
Além disso, a reformulação dos planos de saúde impôs um aumento
de 161,6% na assitência médica.
123,58%
- Serviços Públicos
Tanto os serviços privatizados quanto
aqueles setores que têm seus preços administrados pelo Governo,
registraram taxas absurdas. Os aumentos mais marcantes ficaram
por conta da TELEFONIA (417,28%), do GÁS DE BUTIJÃO (156,44%),
água e esgoto (84,10%) e eletricidade (65,10%). Pelos cálculos
do Dieese, com exceção da eletricidade, até o final de 99
ainda está previsto um novo reajuste de 9%, atingindo um patamar
bem acima da inflação geral do período.
67,8%
- Transporte
Apesar das taxas de transporte terem sido
inferiores à inflação geral, a falta de coerência nas tarifas
públicas fica bem clara na medida em que o transporte individual
subiu 49,9%, bem menos que o coletivo, que chegou a 139,3%.
46,1%
Alimentação
A partir de abril de 1995, as taxas mensais
de reajuste dos preços foram menores que as do ICV geral.
Como as famílias de menor renda gastam proporcionalmente mais
com a alimentação, estas se beneficiaram com o menor aumento
deste setor. As famílias de classe média, que gastam mais
com educação e saúde, foram as mais prejudicadas com os reajustes
durante o Plano Real.
Juíza
Salete Macaloz
fala sobre os abusos do Governo
A Juíza Salete Macaloz, da 7ª Vara Federal,
já foi responsável por inúmeros pareceres favoráveis aos servidores
e sua conduta nos Tribunais se caracteriza por um forte componente
humanista. Ao jornal da Asfoc, ela fala sobre o tratamento
dado aos servidores pelo governo .
Como a Sra. interpreta as medidas do governo
FHC contra o funcionalismo?
Em relação aos vencimentos, com a desculpa de
que não há inflação, digo desculpa porque todos nós a sentimos,
o Governo não corrige os salários há cinco anos. Neste período,
os servidores estão parados no tempo e no espaço, embora exista
na Constituição um dispositivo, colocado pela emenda (in)constitucional
Nº 9, que vem substituir a isonomia entre civis e militares
pela revisão anual. O servidor tem como direito constitucional
a revisão anual e nem isso tem sido feito. O governo não dá
aumento, não corrige salário, nada. Resumindo, o servidor
está condenado ao empobrecimento gradativo.
Quanto à Previdência, o Governo quer arrecadar
dinheiro para o FMI às custas do servidor, criando um imposto
para os inativos e aumentando gradativamente a alíquota dos
ativos para até 25%, ignorando a Constituição.Federal.
As reações têm que ser políticas. Os trabalhadores
devem se juntar aos seus sindicatos e associações para pressionar
o governo a mudar de atitude ou mudar o próprio Governo. Chega
de ficar com a boca aberta esperando este reajuste salarial
tão necessário.
Retorna
Traduzindo o Economês
Álvaro Nascimento
Itaú,
Bradesco
e seus lucros recorde
Me desculpem os leitores por esta coluna bater
tanto na mesma tecla. Mas é impressionante como apesar da
recessão - que leva à quebradeira milhares de pequenas e médias
empresas brasileiras e milhões de lares ao flagelo do desemprego
- o sistema financeiro instalado no Brasil vem batendo um
recorde histórico de crescimento. Nos nove primeiros meses
deste ano que termina, só o Banco Itaú apresentou em seu balanço
um lucro de R$ 1,454 bilhão. É - nada mais, nada menos - que
o melhor resultado já obtido pela instituição em toda sua
história e corresponde a mais do que o dobro (142,7%) do lucro
registrado no mesmo período no ano passado (R$ 599 milhões).
O Itaú tem patrimônio líquido de R$ 5,8 bilhões. Com a expectativa
de fechar 1999 com um lucro perto de R$ 2 bilhões, numa economia
em frangalhos como a do Brasil, o Itaú conseguiria, em apenas
três anos, dobrar seu patrimônio, fato inédito em qualquer
lugar do mundo. Nos calcanhares do Itaú, está o Bradesco (maior
banco privado do País), que lucrou apenas nos meses de julho
a setembro deste ano R$ 739,8 milhões. Os bancos lucraram
principalmente com os juros estratosféricos e com a desvalorização
do real frente ao dólar. Aliás, até hoje não está devidamente
explicado o porquê destas instituições terem comprado tanto
dólar nas vésperas da desvalorização, quando ninguém poderia
(ou deveria) imaginar que ela fosse acontecer. A lista de
instituições que se beneficiaram - produzida pelo Deputado
Alosio Mercadante (PT-SP) - ainda dorme nas gavetas das eternas
investigações do Banco Central. A lucratividade dos bancos
deveria no mínimo constranger a equipe econômica de FHC, que
há anos promete (a nova previsão é para o ano 2015!!!) a retomada
do desenvolvimento, o fim do desemprego e da miséria. Pelo
visto, o País pode esperar. Já os banqueiros ...
"Acorda, amor"
Um Ministro foi acusado de corrupção, os dados
foram tornados públicos, ele ficou constrangido e pediu demissão.
Sua justificativa: "um ministro não pode exercer sua
missão se está sob suspeita", pois não queria "colocar
em risco todo o governo".
Calma, companheiros. Este ministro não se chama
Eliseu Padilha (Transportes) que continua tentando explicar
como é que os precatórios do DNER furavam a fila e iam parar
nos bolsos de lobistas e intermediários. Nem se chama Rafael
Grecca (Esporte e Turismo) pego na mentira e envolto em denúncias
de favorecimentos a bingos e financiamentos irregulares através
do Indesp (uma espécie de Fundação de Apoio do seu Ministério).
O nome do cabra que pediu demissão é Dominique
Strauss-Kahn, ministro na França, que se soubesse da magnitude
das denúncias contra seus "similares" brasileiros
se sentiria um perfeito idiota. Já os ministros daqui, ao
verem o exemplo francês, devem pensar: "nada como viver
num País onde a preocupação com a ética dura o tempo necessário
para que a mídia esqueça o assunto".
Minas de
ouro
De volta ao Brasil, de volta à maracutáia. O
duvidoso programa de privatizações brasileiro já deu muito
o que falar pela quantidade de irregularidades que volta e
meia vêm à tona. De Minas Gerais, vem, só agora, a notícia
de um grande negócio realizado em benefício dos investidores
estrangeiros. Em 1997, as empresas americanas Southern Eletric
e AES, em consórcio com o banco brasileiro Opportunity, conseguiram
vantagens nunca vistas no mercado para comprar parte das ações
da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), responsável
por 11% da energia gerada no país.
Por R$ 1,1 bilhão levaram 33% das ações da Cemig,
só que não pagaram um centavo à vista. A primeira metade foi
paga um ano depois, sem juros ou correção monetária. A outra
metade foi generosamente financiada pelo BNDES, na época presidido
por Luiz Carlos Mendonça de Barros, com juros de 3,5% ao ano.
Melhor ainda, mesmo sendo minoritários os estrangeiros têm
o controle das decisões estratégicas da empresa.
O governador Itamar Franco está contestando
o negócio na Justiça. Em resposta, o presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, afirmou em Nova York que, se fosse investidor
estrangeiro, evitaria Minas Gerais. A briga está apenas começando,
mas é um sinal significativo de que nem todos os políticos,
mesmo conservadores como o próprio Itamar, estão dispostos
a entregar o ouro aos bandidos tão facilmente.
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Espaço Unifoc
Bresser
Não pode haver omissão!
Antonio Humberto da Costa
Ser participativo da luta incessante para
receber o que é devido do Plano Bresser é uma obrigação de
todos. Entretanto, o que se vê, na prática, é apenas um grupo
de abnegados servidores que não representa nem dez por cento
da Comunidade de Manguinhos, lutando pelo direito de todos.
Nas assembléias da ASFOC, o peso maior, que
representa mais de setenta por cento do valor financeiro dos
precatórios, nunca comparece e se limita apenas a perguntar
o que foi decidido como se eles não fossem parte integrante
da questão.
O momento não é de dividir. Do auxiliar ao Presidente
da FIOCRUZ, todos devem ter a consciência de que só unidos
chegaremos ao objetivo final. Nós da UNIFOC, reconhecemos
os esforços da Presidência da FIOCRUZ, no sentido de manter
a luta em nível compatível com a excelência da Instituição.
Hoje, deveríamos estar falando de festas natalinas,
das perspectivas do Ano 2000, nos 100 Anos da FIOCRUZ, etc.
E, no entanto, nesse momento financeiro tão difícil, já que
se vão mais de 5 anos de arrocho salarial, aproveitamos para
pedir uma participação maior nessa luta para que possamos
ter um desfecho feliz, uma vez que, ao longo dos anos só temos
tido decepções e amarguras.
Nós temos um sonho e a busca da concretização
desse sonho é que faz o homem lutar, obstinadamente, até o
fim de sua vida por dias melhores.
O Bresser não é um sonho. Ele significa e representa
o direito que temos de receber o que nos é devido; se assim
não fosse, não teríamos ganho em todas as etapas judiciais.
Esqueçamos as nossas divergências íntimas e internas e lutemos,
com todos as nossas forças para recebermos os precatórios
do Bresser.
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de felicidades
são os votos sinceros da sua UNIFOC.
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Cartas do Leitor
Ministro
de FHC
assinou a Cassação dos cientistas da Fiocruz
Relendo "O Massacre de Manguinhos",
de Herman Lent, encontrei na página 46 a relação dos que assinaram
a cassação dos cientistas. Dentre aqueles nomes, o de Marcus
Vinicius Pratini de Moraes, atual Ministro da Agricultura
de FHC (foto). Fica a informação para registro da ASFOC.
Eduardo Koatz
(Museu da Vida)
NR: A ASFOC não
só registra como faz questão de reforçar a denúncia, como
forma de mostrar o tipo de pessoas que FHC escolhe para compor
seu ministério.
"Massacre
de Manguinhos"
"Parabéns aos diretores e editores da ASFOC
pela magnífica publicação de agosto/setembro 1999, que tive
oportunidade de ler no laboratório de Entomologia do Dr. José
Juberg, o meu antigo laboratório em Manguinhos.
Parabéns multiplicados pela comemoração do aniversário
da Anistia e a referência aos 10 cassados de Manguinhos, pelos
atos 5 e 10, o que não foi sequer lembrado pela atual direção
da Fiocruz, silenciosa e indiferente ao fato, apesar de seu
Presidente e Vice-Presidente de Ensino e Pesquisa terem sido
discípulos diretos de dois cassados, Fernando Ubatuba e Haity
Moussatché.
Lembro somente que o chamado massacre de Manguinhos
não deve ser citado assim pois "O Massacre de Manguinhos"
é o título do livro que publiquei em 1978, ainda antes do
decreto de Anistia, na Coleção Depoimentos da Editora Avenir
e que teve a capa abrilhantada pelo traço inconfundível de
Oscar Niemeyer mostrando a cores, a fachada frontal do edifício
principal, atual castelo, com uma de suas duas torres caída,
quebrada. Alusão impressionante da perda de 10 cientistas
e seus discípulos.O livro está esgotado, mas a Biblioteca
de Manguinhos tem o exemplar que eu próprio doei".
Herman Lent (Pesquisador)
Olimpíadas
ASFOC
Fiquei muito feliz ao ter conhecimento que um
dos times de futebol de campo da Fiocruz levará o nome de
meu pai Ernani Braga . Sem a menor dúvida, ele gostaria
muito desta homenagem, já que era fã de futebol torcia
pelo Fluminense onde jogou como amador nos tempos de faculdade,
tendo também jogado futebol de praia. Agradeço em nome de
minha mãe e de meus irmãos a homenagem prestada pela ASFOC.
Adelina Viana Braga
Muito legal apresentar as biografias!!! (dos
homenageados pelas equipes que disputaram as Olimpíadas da
ASFOC)
Vera Lucia Luiza.
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Previdência
e perversidade
O desrespeito à Constituição pelo Governo FHC
só não é maior que o respeito cego que ele dedica ao receituário
do FMI. Para pagar aos banqueiros os juros das dívidas externa
e interna, o governo já encontrou um método: burlar a Constituição
e apresentar a conta aos trabalhadores e aos servidores públicos.
Enquanto espera janeiro chegar para dar um novo golpe nos
servidores, com a votação da emenda constitucional que cria
a contribuição previdenciária dos inativos, a base parlamentar
governista aprovou o fator previdenciário (Lei 9876/99). A
fórmula perversa - baseada no tempo de contribuição, idade
no momento do pedido de aposentadoria e a expectativa de vida,
o que não está previsto em nenhum dispositivo constitucional
torna possível que "milhões de trabalhadores brasileiros
venham a morrer sem nunca gozarem a aposentadoria".
A afirmação é do Diretor-técnico do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Ulisses Riedel.
Ele se baseia em dados do próprio INSS, que revelam que a
média de idade de falecimentos dos segurados é de 60 anos.
"Na verdade, os mais pobres, que começam a trabalhar
aos 15 ou 16 anos, morrem muito mais cedo, essa média é alcançada
porque nós, privilegiados, morremos com 70 ou 80 anos de idade",
diz Riedel. Diante desta média e com as novas regras da aposentadoria
que, na prática, estabelecem que ninguém poderá aposentar-se
com a integralidade da sua contribuição, antes dos 59 anos
de idade, o trabalhador vai contribuir para a previdência
até a morte.
O servidor público, que ao longo do governo
FHC já viu serem suprimidos mais de 50 direitos adquiridos,
ainda está submetido a critérios para o cálculo da aposentadoria
que obedecem a integralidade. Mas o Governo vem tentando a
todo custo, mesmo com o Supremo Tribunal Federal já tendo
declarado a sua inconstucionalidade, aprovar a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC 136/99), que cria a contribuição
dos servidores inativos. Na primeira audiência pública realizada
pela Comissão Especial da Câmara que trata da questão, os
Ministros Martus Tavares (Planejamento) e Waldeck Ornellas
(Previdência) não pouparam esforços para justificar a cobrança,
mas segundo o informe do Diap, "o que ficou claro é que
o governo somente persegue o ajuste fiscal acertado com o
FMI e não a solução para os graves problemas da Previdência
Social".
A PEC 136/99 só deverá ser votada pelo plenário
da Câmara, em primeiro turno, durante a convocação extraordinária
do Congresso em janeiro. Até lá, é fundamental que as entidades
representativas dos servidores façam um trabalho cotidiano
de pressão junto aos deputados, especialmente os membros da
Comissão Especial. No caso do fator previdenciário, os partidos
de oposição já encaminharam uma Ação Direta de Incostitucionalidade
da Lei 9876/99. A cada um de nós cabe ficar atento e não se
omitir. Se você tem relacionamento com algum deputado, escreva
para ele ou telefone para o Disque-mensagem da Câmara dos
Deputados: 0800-696191, a ligação é gratuita.
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Morte e Vida Dorcelina
Luci Choinacki*
Convoco o leitor a uma reflexão. Quero abordar
um assunto que está na ordem do dia e corrói a sociedade brasileira:
a violência urbana e rural, o crime organizado, os assassinatos,
as chacinas, o narcotráfico, a impunidade, o desemprego, a
desesperança do povo. Estamos diante de um barril de pólvora
e podemos perceber que esse é um sinal do descontrole social
provocado pelo modelo capitalista de exclusão, em que não
interessa aos dominadores a vida humana, interessa simplesmente
o capital. Trabalhadores rurais sem terra são mortos, juiz,
prefeita, vereadores, sindicalistas, padres, crianças, agentes
de pastoral são assassinados. Os assassinos estão soltos.
Onde estão os capangas e os mandantes do assassinato
do líder seringueiro Chico Mendes, morto em 1989? Na cadeia?
E quem matou a líder do sindicato dos trabalhadores rurais
de Lagoa Grande, na Paraíba, Margarida Alves? Até hoje não
foram encontrados os assassinos.
A deputada Ceci Cunha também está nesse infeliz
rol de vítimas. E agora assistimos à morte da prefeita de
Mundo Novo, Dorcelina Folador, morta na varanda de sua casa
após denunciar o narcotráfico, a corrupção dos ex-prefeitos
e a falta de reforma agrária.
Mas são muitos outros os fatos que nos fazem
refletir sobre a violência no Brasil. Não podemos esquecer
as chacinas da Candelária, de Vigário Geral, do Carandiru,
momentos que comoveram os brasileiros. Mas tudo parece ser
esquecido. A violência aumenta a cada dia. Os crimes contra
a vida, o mais fundamental dos direitos do ser humano, não
são filmes de bandidos e mocinhos. São a realidade. Mas as
cenas parecem simplesmente terminar, como se fosse um filme.
A omissão das autoridades leva o povo ao esquecimento, enquanto
a impunidade parece servir de estímulo para mais violência,
mais assassinatos, mais chacinas.
Não se trata apenas de uma luta travada entre
o bem e o mal. Até homens e mulheres de boa-fé estão sendo
corrompidos. Essa violência é fruto de um modelo de desenvolvimento
capitalista em que os ricos estão cada vez mais ricos e os
pobres cada vez mais pobres. A violência aumenta na mesma
proporção em que crescem os níveis da miséria, do desemprego
e da desilusão.
Os próprios teóricos capitalistas não vêem uma
saída para esse avassalador sistema, que fornece condições
para que poucos ganhem muito e muitos sejam seus escravos,
fiquem jogados à margem. O problema é que estar à margem traz
revolta capaz de levar o ser humano ao crime organizado, ao
narcotráfico. Pior ainda: a violência se torna banal. Isso
nos assusta.
O valor da vida, nestes dias, é menor que o
de uma bala no gatilho. Mata-se para manter um latifúndio,
assim como para roubar um tênis de marca.
Em 1996 foram mortos 30 trabalhadores rurais
sem terra no Brasil, em apenas dois dos grandes massacres
cometidos pela Polícia Militar, a mando de governos estaduais
coniventes com latifundiários. Dezenove foram mortos em Eldorado
do Carajás. Onze em Corumbiara. Pessoas que buscavam um pedaço
de terra para plantar e viver com dignidade. Os assassinos
também estão soltos. O mundo cobra uma punição. O governo
brasileiro, mesmo assim, não tomou nenhuma atitude.
Quantos pais e mães de família choram a morte
de seus filhos nas cidades do Brasil? Perdemos a conta.
Insensíveis é que não podemos ficar.
Dorcelina Folador, ex-líder do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), está morta e não há
nada que possa apagar essa dor. Como disse o presidente Fernando
Henrique, não importa de qual partido ela era. O que importa
é a justiça e o direito à vida.
Portanto quero crer que o presidente determine
que sejam apurados os fatos. Esse filme, na televisão, sempre
tem o mesmo tom. Para as autoridades, suas decisões e ações
são virtuais. Na vida real, o presidente ainda não cumpriu
suas palavras. É omisso e, portanto, incentiva a violência.
Vivemos, além de um caos social promovido pelo
neoliberalismo, um bangue-bangue nascido desse desgoverno.
É preciso vontade política para fazer reforma agrária, gerar
emprego, educar, equipar e dar condições para que a polícia
possa oferecer segurança de fato à população.
Omissas nossas autoridades não podem continuar.
Queremos direitos humanos em vez da barbárie, já que a democracia
por enquanto é um discurso formal. Continua valendo mais o
que tem poder econômico. Vale mais a lei imposta pelo dominador.
Essas mesmas autoridades também não devem promover
programas de violência contra os brasileiros, como os de "tolerância
zero" adotados por vários governos estaduais como forma
de reprimir a violência. Sabemos que seu alvo, como podemos
verificar em Florianópolis, são os moradores de rua, os excluídos,
as vítimas do alcoolismo, do abandono, do desemprego, da falta
de um lugar para morar e viver com dignidade. "Tolerância
zero" deveria ser usada contra os líderes do narcotráfico,
dos crimes organizados. Não podemos permitir que o Brasil
seja um paraíso desses mafiosos. Presidente e Ministro da
Justiça precisam agir imediatamente.
Temos que nos indignar de verdade e organizar
nossa sociedade com outros paradigmas, em que o ser humano
se construa por meio de outros valores, diferentes do consumismo
e da exploração do homem pelo homem, democratizando o poder,
a terra, a renda, o acesso ao trabalho, oferecendo comida,
saúde, educação, lazer, amor.
Esse modelo econômico aprofunda cada vez mais
a exploração do povo e retira de vez a esperança da população.
Só um povo livre desse imperialismo norte-americano, dessa
escravidão, desse domínio colonial pode reconquistar a esperança
e trazer a felicidade a todos os homens e todas as mulheres
do país, da América Latina. O chumbo e as armas vão perder
o seu valor quando o ser humano for o centro das decisões
políticas e econômicas.
*Luci Choinacki, 45, agricultora,
é deputada federal pelo PT de Santa Catarina. É fundadora
do Movimento das Mulheres Agricultoras (MMA) e da Articulação
Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais.
Artigo reproduzido do jornal
Folha de São Paulo (5/11/99)
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