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[agosto/setembro de 1999]
ANISTIA
20 anos
No dia 28 de agosto de 1979, o movimento popular comemorava
uma grande vitória: o Congresso Nacional tinha aprovado a
Lei de Anistia, fruto de uma luta intensa dentro e fora do
país. Ainda havia muito a ser feito, mas um grande passo para
o fim da ditadura militar acabava de ser dado. Agora, 20 anos
depois, a libertação dos presos políticos e a volta dos exilados
serão comemoradas em diversas cidades brasileiras.
No entanto, as conseqüências do autoritarismo, das torturas
e perseguições ainda chegam aos nossos dias e obscurecem o
brilho da festa. A lembrança dos que foram assassinados e
ainda continuam desaparecidos não descansa, lacunas na vida
de quem foi banido permanecem abertas e, depois de tanto tempo,
ainda há quem espere a anistia e a restituição de seus direitos.
Editorial
Anistia ampla, geral e irrestrita
Espaço Unifoc
Roberto Freire escreve sobre a Anistia
ASFOC alerta para as armadilhas do PDV
Seu Direito
Traduzindo o Economês
Os 10 anos de uma conquista
Editorial
Corrupção, autoritarismo,
falência social, política e econômica
Dez razões para FHC mudar
ou serem convocadas novas eleições
A "Marcha dos 100 Mil" contra o desgoverno
de Fernando Henrique Cardoso é a responsável pelo fato político
mais relevante patrocinado pela unidade das oposições desde
o advento do Plano Real. Guardadas as devidas proporções,
é a repetição de protesto similar realizado em 1992 (que reuniu
25 mil pessoas também na Esplanada dos Ministérios) e que
iniciou uma série de manifestações em todo País, exigindo
que o Congresso Nacional impusesse limites aos desmandos,
à corrupção e à política econômica do Governo Collor. Surdo
e arrogante, Collor reagiu exatamente como FHC reage agora,
tentando diminuir a representatividade do ato e reafirmando
a continuidade de sua política. Deu no que deu.
Antes que alguém esgrima argumentos do tipo "é um exagero
confundir Collor com FHC", "a honra de Fernando
Henrique permanece inatacável", "FHC venceu as eleições
e é um golpe tentar retirá-lo do poder", vale lembrar
os seguidos casos de corrupção e desatinos econômicos que
o envolvem diretamente e que levam a oposição e a sociedade
organizada a exigirem o fim de sua política, mesmo que para
isso ele precise deixar o poder.
1.A "pasta rosa" do Econômico
- Nacionalmente conhecida e nunca devidamente investigada
até o fim, a "pasta rosa" foi encontrada pela Polícia
na Diretoria do Banco Econômico. Nela havia uma relação de
políticos (todos aliados a FHC nos gastos de campanha, comícios
conjuntos, etc.) apoiados financeiramente pelo banco já falido.
O mesmo Econômico de Angelo Calmon de Sá que mais tarde recebeu
R$ 6 bilhões de "ajuda" do Proer criado por FHC-Malan.
2.A compra de votos pró-reeleição - O que
pensar da compra de votos pró-reeleição por R$ 200 mil, onde
FHC era o diretamente beneficiado? É razoável acreditar que
ele não sabia que seu amigo de longa data, sócio nas fazendas,
articulador político e Ministro das Comunicações, Sérgio Motta,
comandava as negociações de compra dos parlamentares envolvidos?
3.A privatização das teles - E o que pensar
das vergonhosas privatizações das teles, quando novas gravações
puseram a voz do próprio Presidente nas TVs, rádios e até
na Internet articulando financiamentos públicos e pressões
políticas para favorecer determinado grupo concorrente? A
desculpa apresentada ao País não convence uma criança de dois
anos: o grupo empresarial apoiado pelo Presidente perdeu.
A conclusão é assustadora: além de criminoso, o Presidente
é incompetente.
4.Desemprego recorde - Só em São Paulo existem
mais de 1 milhão e 500 mil pessoas desempregadas. Mas FHC
faz uma ginástica e consegue comemorar a queda do índice.
Sabe como? O índice de desemprego (só no Brasil) é medido
pelo IBGE com base na pergunta se o infeliz do desempregado
"está procurando emprego". Como no mês de julho
milhares de brasileiros desistiram de procurar emprego, o
índice caiu. Não porque eles conseguiram um emprego, mas porque
perderam a esperança de conseguir. É isso que FHC está comemorando!
5.O Programa de Ajuda aos Bancos - Proer
(monstrengo criado para salvar banqueiros que fraudaram balanços
por até 10 anos como no caso do Nacional ou emprestaram recursos
de seus correntistas como no caso do Bamerindus ou foram simplesmente
incompetentes) queimou R$ 23 bilhões de dinheiro púbfico.
Por que? Este mesmo dinheiro faltou nas áreas sociais com
a justificativa da necessidade do País realizar um "ajuste
fiscal". Até hoje o Governo FHC (Banco Central, Polícia
Federal, Receita Federal, etc.) não pôs um banqueiro criminoso
na cadeia.
6.Pagamento de juros extorsivos - FHC concorda
em pagar juros aos banqueiros internacionais que chegaram
a ser de 39% ao ano (os maiores do mundo) quando no mesmo
momento a Argentina pagava 7%. Por que? Estes juros foram
responsáveis pela saída do País de US$ 72 bilhões só no ano
passado. Aí está a razão maior do déficit fiscal brasileiro.
7.O desmonte da esfera pública - FHC acabou
com o parque industrial público brasileiro. Com a justificativa
de que usaria os recursos arrecadados com a privatização para
abater a dívida do Governo, investir no social e que a iniciativa
privada garantiria serviços de melhor qualidade, preços menores,
mais empregos e que só ela teria recursos para dinamizar as
empresas públicas, FHC vendeu a baixo preço e em processos
no mínimo suspeitos todo o nosso parque siderúrgico, energético,
de telecomunicações, de exploração mineral, portos, ferrovias
e metrôs que levaram décadas para serem construídos. Num momento
de recessão e desemprego como o que vive o País, esta estrutura
pública poderia servir de alavanca para um novo ciclo de desenvolvimento.
Hoje entregues à iniciativa privada, ao contrário do prometido,
estas empresas se transformaram em geradoras de desemprego,
os serviços caíram de qualidade, seus preços estão mais altos
(com aumentos acima da própria inflação), elas não investiram
recursos significativos (a grande parte dos investimentos
foram "arranjados" no BNDES) e o pouco dinheiro
arrecadado não conseguiu abater a dívida pública (que cresceu
ainda mais devido aos juros altos) e muito menos elevar os
investimentos sociais.
8.Armínio Fraga: estamos nas mãos dos interesses
internacionais - Com a justificativa pobre da "globalização",
enfrentada com limites pelos principais países do mundo, FHC
promoveu uma desnacionalização recorde de nossa economia.
Nunca houve tantas empresas públicas e privadas absorvidas
em prazo tão curto de tempo por empresas e conglomerados estrangeiros.
Mas além das empresas, os especuladores impuseram (e FHC aceitou)
o nome de Armínio Fraga (empregado de um dos maiores investidores
financeiros e o que mais havia articulado contra a nossa moeda,
George Soros) para dirigir nada mais nada menos que o Banco
Central. Os especuladores não aceitavam apenas determinar
os passos da política econômica de FHC. Eles queriam ser a
política. E conseguiram.
9.FHC mente - Em quatro anos e meio de mandato,
FHC produziu um déficit orçamentário recorde. Para esconder
que são os juros os principais responsáveis pelo "rombo"
nas contas públicas, FHC e Malan criaram o "déficit primário"
(que é positivo) como índice a ser anunciado. Assim, no balanço
entre o que o Governo paga e o que ele arrecada (sem se levar
em conta os juros que sangram os cofres públicos) o saldo
é positivo, mas se levados em conta os juros, a magnitude
do déficit aparece. Só no primeiro semestre deste ano, o déficit
público chegou a R$ 71 bilhões.
10. Autoritarismo e arrogância - Em quatro
anos e meio de governo, FHC editou duas mil Medidas Provisórias,
instrumento que, segundo a Constituição, só deveria ser usado
em casos extremos, em respeito ao Legislativo e à democracia.
Mas FHC usa MP's até para determinar a abertura do comércio
aos domingos. A outra face desta moeda é a arrogância. Por
dezenas de vezes enfrentou críticas sérias com chingamentos
à oposição e ao movimento social, taxados por ele como "neobobos",
"nefelibatas" e coisas similares.
Com apenas 16% de aprovação nas pesquisas de opinião sobre
seu governo, ao completar quatro anos, sete meses e 23 dias
como "comandante" da política econômica do País
(sem contar os meses à frente do Ministério da Fazenda no
Governo Itamar), o Presidente teve a coragem de ir aos meios
de comunicação (sempre generosamente cedidos pelos proprietários
das grandes redes quando despenca a popularidade dos governantes)
pedir tempo à sociedade para que "coloque o País nos
trilhos".
Tal qual os desempregados - que só após 20 semanas (em média)
param de procurar por um emprego - a sociedade brasileira
tem dado até agora demonstração de tolerância. Mas da mesma
forma dos que não têm emprego, ela começa a demonstrar (como
já fez outras vezes) que sua paciência tem limite.
Expediente Diretoria
da ASFOC
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Editoração e Ilustração
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ampla, geral e irrestrita!
S e r á ?
Há exatos 20 anos, no dia 28 de agosto
de 1979, uma sensação de alívio e alegria percorreu
as cidades brasileiras e alcançou o continente europeu. Ainda
havia muito a ser feito, mas um grande passo para o fim da
ditadura militar acabava de ser dado. O Congresso Nacional
tinha aprovado a Lei de Anistia, fruto de uma luta intensa
dentro e fora do país. A Anistia aprovada inicialmente era
ainda restrita, excluindo os que eram acusados pela ditadura
de terem cometido "crimes de sangue", mas a pressão
popular acabou conseguindo a libertação de todos os presos
políticos e a volta dos exilados ao país. Donas de casa, estudantes,
políticos de oposição, advogados, trabalhadores de toda as
áreas podiam finalmente festejar. Hoje, 20 anos depois, em
Brasília, no Rio e em diversas cidades brasileiras comemora-se
aquele momento histórico. No entanto, a sombra terrível dos
anos de ditadura ainda obscurece o brilho da festa. A lembrança
dos que foram assassinados e ainda continuam desaparecidos
não descansa, lacunas na vida de quem foi banido permanecem
abertas e, depois de tanto tempo, ainda há quem espere a anistia
e a restituição de seus direitos.
Quando os militares deram o golpe e derrubaram
o governo constitucional de João Goulart, o Brasil vivia um
grande momento pelas reformas de base, em favor das causas
sociais e apoiado por um forte movimento popular. Com o estabelecimento
da ditadura militar, os caminhos da luta política foram se
estreitando, os partidos políticos foram dissolvidos, os sindicatos
foram fechados e os trabalhadores, funcionários públicos e
estudantes mais engajados foram perseguidos. O atual Assessor
de Comunicação Social da Fiocruz, Umberto Trigueiros, tinha
16 anos nesta época e era dirigente da Federação de Estudantes
Secundaristas de Niterói, que se posicionou contra o golpe
e pela legalidade. "A perseguição começou aí", diz
Umberto, "estudantes que assim se posicionaram ficaram
visados pela repressão, pela polícia política e passaram a
ter problemas desde então".
Prisões, torturas e exílio
Logo em seguida, Umberto foi para a Universidade
e, em 1966, foi eleito vice-presidente da UNE no Congresso
de Belo Horizonte. Quando a UNE foi proscrita, seus dirigentes
foram perseguidos e condenados, junto a outros colegas, Umberto
foi expulso da UFF, onde estudava Ciências Sociais, e acabou
tendo que ir para a clandestinidade. "No curso desta
trajetória passei a ser militante, primeiro do PCB e depois
do MR8, no movimento estudantil inicialmente e depois com
um envolvimento maior na luta política para terminar com a
ditadura", conta ele.
No dia 15 de fevereiro de 1969, Umberto foi
preso, um "presente de Aniversário" quando completava
21 anos. Começou então para ele um destino que foi dividido
por muitos jovens naquela época: passagens por diversas prisões
militares, incomunicabilidade, tortura e o total desrespeito
pelos direitos humanos até ser banido do país e ser jogado
na vida incerta do exílio.
Dois irmãos, Cid e César Benjamin, também foram
presos e torturados. Cid, o mais velho, foi banido depois
e César foi preso quando ainda era menor de idade. "Ele
não foi entregue ao Juiz de Menores, como deveria ter sido
feito, e ficou preso durante cinco anos", diz sua mãe,
D. Iramaia Benjamin.
Hoje, aos 75 anos, D. Iramaia lembra da intensa
atividade da família para libertar o filho da prisão ilegal:
"Aqui no Brasil éramos eu, meu marido e meu filho Léo;
na Suécia, o Cid lutava através da Anistia Internacional e,
afinal, conseguimos soltar o César em setembro de 76".
Começava uma nova etapa na vida desta batalhadora que tinha
feito o curso normal, depois foi estudar química, profissão
na qual trabalhou trinta anos, e que, aos 40 anos, começou
a estudar filosofia. "Eu pensei, tenho dois filhos exilados,
o que estou fazendo para trazê-los de volta?", lembra
D.Iramaia, que resolveu procurar o Movimento Feminino pela
Anistia, fundado em 1975 por Terezinha Zerbini. "Elas
tinham um modo de pensar diferente do meu, sempre considerei
a Anistia uma coisa política e o Movimento queria alcançá-la
através de pedidos aos governantes e suas senhoras, uma coisa
mais sentimental".
O Brasil ficou
cheio de Comitês pela Anistia
Em fevereiro de 1978, era lançado o Comitê Brasileiro
pela Anistia (CBA), fundado por D. Iramaia e um pequeno grupo
de familiares de presos e exilados. Os Comitês já vinham sendo
formados nas cidades européias onde viviam os exilados brasileiros
e, aqui, o pequeno grupo inicial foi se multiplicando, conseguindo
adesões nos sindicatos e universidades. O lançamento na ABI,
para espanto do pessoal de esquerda, contou até com uma palestra
do General Peri Bevillaqua, que tinha sido Comandante do II
Exército. "Logo depois, muitos estados fizeram os seus
e o Brasil ficou cheio de Comitês pela Anistia", lembra
D. Iramaia, "as pessoas eram muito ativas e fizemos alianças
com entidades de idéias liberais. Foi uma luta bonita e importante".
Quem viveu aquela época ainda lembra dos adesivos,
com letras garrafais exigindo: Anistia ampla, geral
e irrestrita. "Fomos distribuí-los nas ruas, tínhamos
consciência de que sozinhos não poderíamos fazer nada, as
pessoas tinham medo da ditadura, mas chegamos a ter 460 pessoas
filiadas aqui no Rio", conta D. Iramaia. Corajosa, ela
chegou a distribuir adesivos aos guardas que a impediam de
receber uma companheira que saía do presídio em Bangu. A mesma
coragem que a levava para a linha de frente nas passeatas
e manifestações, que não se abalava diante das ameaças anônimas
no cartão que a cada ano lhe desejava "um péssimo Natal".
Lembranças que não calam
D.Iramaia lembra da alegria quando a Lei da
Anistia foi aprovada no Congresso e da volta dos exilados,
"o primeiro foi o Gabeira, mas o segundo foi meu filho
Cid". Alguns, como o jornalista Umberto Trigueiros, tiveram
que adiar o tão desejado retorno. Era necessário preparar
o recomeço, não eram mais os jovens que tinham sido obrigados
a deixar o país. Umberto tinha saido do Brasil num dos grupos
de presos políticos trocados por embaixadores sequestrados
pelas organizações de esquerda. Regressava, em 80, com o filho
nascido no longo exílio, tinha 32 anos, um futuro incerto
pela frente e lembranças que, ainda hoje, não calam.
"As pessoas eram banidas sem seus pertences,
sem documentos", diz Umberto que, como os outros, foi
obrigado a assinar uma declaração de que estava de acordo
com o banimento. "Não era uma opção, era a única maneira
de assegurar nossa integridade". No Chile, seu primeiro
país no exílio, a integridade de vários brasileiros logo voltou
a ser ameaçada. "Com o golpe militar chileno, fomos perseguidos
e o governo brasileiro ajudou na busca e tortura de vários
exilados", lembra Umberto.
Expulso do Chile, Umberto viveu cinco anos em
Cuba e depois foi para a Suécia, onde passou os últimos anos
de exílio. "Trabalhei todo este tempo e, como todo mundo,
fiz das tripas coração para sobreviver".É neste ponto
que o passado ainda projeta suas sombras na vida de Umberto.
Como muitos que lutaram ativamente contra a ditadura e que
hoje trabalham na Fiocruz - entre eles Ilma Noronha, Olga
D´arc e Renato Cordeiro - Umberto também vai comemorar os
20 anos de Anistia, mas sem perder a visão crítica sobre o
processo de transição.
Fantasmas
que sempre ressurgem
Umberto faz parte de uma geração que foi afastada
da vida social e produtiva em seu país, na qual o autoritarismo
e a tortura trouxeram prejuízos que ainda não foram devidamente
reparados. Um deles o atinge pessoalmente, mas é o caso de
muita gente: "Fui obrigado a sair e ficou este buraco
na minha vida, uma lacuna de onze anos trabalhados no exílio
e que não são reconhecidos". Ele quer que estes anos
sejam contados para efeito de aposentaria, já teve seu pedido
negado pela Comissão de Anistia do Ministério do Trabalho
e agora pensa em entrar com um processo judicial. "Não
vou pedir uma indenização em dinheiro, quero que seja reconhecido
que houve um momento no qual não pude exercer minha profissão
no meu país".
Para ele, a Anistia foi um avanço e uma vitória
do movimento popular, "mas não se concluiu, pois muitas
pessoas não tiveram seus direitos reconhecidos". Umberto
diz que é preciso que o Estado reconheça sua responsabilidade
sobre as pessoas que desapareceram nas mãos dos órgãos de
repressão: "As Forças Armadas não abrem seus arquivos,
não liberam informações que poderiam contribuir para reparar
a dor dos familiares".
Mas o que se vê é o contrário. A identificação
de ossadas encontradas em cemitérios clandestinos, que era
feita na Unicamp, teve que ser interrompida porque o governo
não libera recursos. Umberto lembra que, há poucos meses,
Fernando Henrique chegou a nomear para Diretor da Polícia
Federal o Delegado Campello, "um sujeito envolvido com
torturas e perseguição, não é possível que o Presidente da
República não tenha essa informação". Ele cobra uma posição
clara do governo, "ou então estes fantasmas vão estar
sempre ressurgindo da história e penando por aí".
A Anistia não chegou para todos
Mesmo 20 anos depois, ainda existem casos de
pessoas que lutaram contra a ditadura militar e que não foram
anistiados. Alguns porque foram assassinados e continuam desaparecidos.
Outros são militares de baixa patente que até hoje lutam para
que seja reconhecida a motivação política das punições que
sofreram.
Yrlene Cherques, que trabalha em Farmanguinhos
e participa ativamente da Asfoc, é filha de Itair José Veloso,
sindicalista e dirigente do PCB, torturado até a morte pela
repressão, aos 45 anos. No dia 22 de maio de 1975, Itair saiu
cedo para um encontro, como sempre fazia, se despediu com
um beijo das filhas e da esposa, prometendo voltar para o
almoço. Elas nunca mais o viram. "Ele procurava nos proteger
e falava o menos possível de sua atividade política, mas sabíamos
que, se ele fosse preso, a tortura não adiantaria, ele não
abriria nunca" diz Yrlene.
Depois disso, a família só teve notícias do
destino de Itair através do sargento-torturador, Marival Chaves,
que em 92 disse à revista Veja que ele teria sido jogados
no Rio Novo em São Paulo. Mesmo tendo perdido o pai e esposo,
a família sempre participou da luta pela Anistia e dos grupos
de familiares de desaparecidos políticos, sobretudo a esposa,
D.Ivanilda, que até hoje frequenta as reuniões do grupo Tortura
Nunca Mais. Após longos anos de incerteza e poucas informações,
em 1995, o Estado reconheceu sua responsabilidade no assassinato
de Itair. A família recebeu uma indenização e o atestado de
óbito.
Raimundo Porfírio é diretor da Unidade de Mobilização
Nacional pela Anistia (UMNA), que representa soldados e cabos
que até hoje não foram anistiados. Eles continuam sendo punidos
por terem participado de uma ruidosa vigília no Sindicato
dos Metalúrgicos do Rio, às vésperas do golpe militar. "Era
uma manifestação contra a prisão dos dirigentes da entidade
e em apoio às reivindicações do povo que também eram defendidas
pelo Presidente João Goulart", lembra Porfírio.
Ele argumenta que, pela Lei da Anistia de 1979,
todos deveriam ter sido anistiados, "pois se cometemos
algum crime foi o mesmo de almirantes, oficiais e políticos".
Depois que o regime militar caiu, sofreram uma punição que
Porfírio considera uma das piores: "Estamos envelhecendo
e morrendo na angústia de não conseguirmos nada, pela morosidade
da Justiça e porque, mesmo quando ganhamos uma causa, a Marinha
recorre".
Irlene, que herdou do pai uma forte consciência
política, pensa em situações como esta ao afirmar que ainda
não podemos comemorar plenamente a Anistia: "Anistiados
mesmo só os militares que participaram da repressão, os problemas
do campo e da cidade ainda estão aí, as pessoas ainda são
presas, torturadas e continuamos sem nossos direitos".
Ditadura
chega à Fiocruz
"Massacrando Manguinhos"
Em 1964, com a queda do então Presidente
João Goulart, o regime militar iniciava seu processo de ocupação
e devastação política no país. Milhares de inquéritos policiais
militares foram instituídos, fragmentando e enfraquecendo
as instituições da esfera pública. Aqui na Fiocruz - na época
Instituto Oswaldo Cruz - três inquéritos, que tentavam apurar
atos de subversão e corrupção entre os servidores, originaram
o episódio posteriormente conhecido como o "Massacre
de Manguinhos".
Antes mesmo de serem iniciadas as investigações,
vários pesquisadores, que exerciam cargos de chefia, foram
afastados pelo então Ministro da Saúde, Raymundo de Brito.
Da lista, fazia parte o filho caçula de Oswaldo Cruz, Walter
Oswaldo Cruz, que acabou morrendo de desgosto, em 3 de junho
de 1967.
Politicamente, segundo o relato da pesquisadora
Wanda Hamilton, em seu artigo "Massacre de Manguinhos":
crônica de uma morte anunciada, as diretrizes da saúde pública
foram orientadas no sentido de controlar a realidade epidemiológica
do país, integrando a saúde ao novo modelo de desenvolvimento
proposto pelo governo.
A abertura dos inquéritos, as restrições e transferências
desencadearam na Instituição um processo de delações, em sua
maioria infundadas, tornando ainda mais tenso o clima entre
os funcionários. Em abril de 1970, apesar de não ter sido
apurado qualquer delito contra os cientistas, o Presidente
Médici suspendeu por 10 anos os direitos políticos e aposentou
10 pesquisadores da Instituição: Herman Lent, Tito Arcoverde
de Albuquerue, Arthur Machado Filho, Hugo de Souza Lopes,
Haity Moussatché, Sebastião José de Oliveira, Moacyr Vaz de
Andrade, Massao Goto, Fernando Ubatuba e Augusto Cid de Melo
Perissé.
Impedidos de entrar em seus laboratórios, presenciando
perseguições a seus colaboradores e discípulos, estes pesquisadores
viram a Instituição, a qual haviam dedicado mais de 30 anos
de suas vidas, se submeter ao jugo da opressão, consentindo
em apagar os sinais de suas presenças. Enfrentando vetos misteriosos
a cada nova oportunidade de trabalho, muitos deles viajaram
para outros países e continuaram desenvolvendo seus estudos.
Em Manguinhos, as marcas do "massacre": linhas de
pesquisa extintas, setores inteiros desativados, laboratórios
lacrados e programas de cooperação interrompidos.
A Anistia
não chegou para eles
Dezesseis anos depois, em 1986, com o fim da
ditadura, o então Presidente da Fiocruz, Sérgio Arouca e o
ex-Ministro da Saúde, Carlos Sant´Ana, reintegraram os dez
cientistas.
O então Chefe de Gabinete da Fiocruz, Ary Miranda,
disse que reparar aquela injustiça era uma questão de honra,
não só para o ex-Presidente da Fiocruz, Sérgio Arouca como
para muitos dos servidores que não se conformavam com a cassação
de seus amigos e professores. "Tivemos uma atitude bastante
ousada na época. Criamos um fato político para garantir a
volta e a permanência dos pesquisadores", conta Ary.
A ousadia a que se refere o ex-Chefe de Gabinete
aconteceu porque, apesar da lei da Anistia ter sido decretada
desde 1979, ela impunha condições quase intransponíveis à
volta dos cassados. O instrumento usado para sua recontratação
foi o caráter de excepcionalidade, autorizado pela Presidência
da República.
E assim, como disse o então vice-presidente
da Fiocruz, Carlos Morel, o retorno dos "Cassados de
Manguinhos" foi um fato marcante na vida instituição:
- Cicatrizar as feridas ainda abertas é o passo inicial, obrigatório,
sem o qual, todos os demais seriam falsos e mistificadores.?
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Espaço Unifoc
"Prá não dizer
que não falei de flores"
Antonio
Humberto da Costa
Falar da Anistia Política para os jovens
de hoje ou até para os mais velhos é algo que parece nostalgia
ou querer reabrir cicatrizes; somente quem viveu aqueles dias
tão amargos e que conviveu com um ranço atravessado na garganta
é que entende o quanto é salutar poder dizer que o Brasil
dos nossos dias não tem mais espaço para tantos desmandos
quanto os cometidos em nome de uma democracia que só existia
na imaginação fértil daqueles que se proclamavam salvadores
da pátria. Foram 20 anos que parecem uma eternidade.
Naqueles dias, os estudantes e aqueles que pensavam
ao contrariamente aos mandatários eram considerados subversivos.
Intelectuais, professores, pesquisadores e outras categorias
profissionais, se constituíam numa ameaça à soberania nacional.
Aqui na Fiocruz, não poderia ser diferente,
ninguém esquece o episódio que ficou conhecido como O MASSACRE
DE MANGUINHOS, quando 10 cientistas foram cassados, sem contar
com outros que foram transferidos para outros locais e não
puderam prosseguir seus trabalhos.
A Anistia Ampla, Geral e Irrestrita resgatou
o Brasil daquele retrocesso na história. O grupo Tortura Nunca
Mais vem, nos últimos anos, mostrando com dignidade e sem
revanchismo a verdadeira face de um Brasil que mergulhou num
caminho quase sem volta; é bem verdade que nem tudo pode ser
resgatado, mas como diz aquela canção... "melhor é deixar
prá trás"...
Não podemos dizer que somos verdadeiramente
livres e independentes quando temos um capitalismo selvagem
que produz, no seu rastro, miséria e injustiça social.
Uma sociedade, que privilegia alguns em detrimento
de uma maioria marginalizada, não pode ser considerada como
ideal: contudo, hoje temos um sonho e este sonho está diretamente
ligado com a experiência daqueles tempos obscuros.
O importante agora é estarmos vivos com um olho
no padre e o outro na missa para que, quem sabe, as futuras
gerações venham a se orgulhar do que estamos fazendo hoje.
Retorna
A
anistia ilumina
os nossos passos
Senador
Roberto Freire*
Nenhum
partido ou organização política pode reivindicar a paternidade
da idéia da anistia. De conteúdo mais restrito ou mais amplo,
ela sempre nasce e acaba por prevalecer na superação dos regimes
autoritários, convertendo-se em momento importante de unidade
dos povos, quando são buscados novos caminhos para a organização
de sociedades democráticas. Ou seja, o instituto da anistia
é uma conquista da humanidade e faz parte da afirmação do
processo civilizatório. Oxalá, no século XXI ela se transforme
em peça de museu pela sua desnecessidade.
Se não podem inventá-la,
os partidos cumprem com o decisivo papel de implementar a
sua conquista. E nesse contexto podemos avaliar, com clareza,
o grau de compromisso das forças políticas com o ideário da
liberdade.
O PCB - Partido Comunista
Brasileiro, antecessor do PPS, em seu VI Congresso, realizado
clandestinamente em 1967, definiu como centro da luta política
contra o regime militar a questão das liberdades democráticas,
tendo por bandeiras as eleições diretas em todos os níveis,
a convocação de uma assembléia constituinte e, como passo
inicial de mobilização, a anistia. Não se deixando levar pelo
equívoco da luta armada e nem pela impaciência, o partidão
compreendia que a anistia, indo além da resistência, atuaria
como mais um elemento de unidade e organização no longo processo
de construção da Frente Democrática, caminho por nós avaliado
como o mais eficaz politicamente para isolar e derrotar a
ditadura.
A decisão do PCB iria
desempenhar importante papel na política brasileira. Levou
os comunistas a atuarem com mais ousadia no interior de um
MDB ainda acuado e tímido frente às restrições ditatoriais.
E com a iniciativa dos comunistas, os democratas e liberais
passaram também a sentir a necessidade de afirmar com mais
clareza seus posicionamentos. Lembramos que nessa ocasião
a maioria dos partidos e forças de esquerda negava-se a atuar
no interior dos chamados espaços institucionais, particularmente
o MDB, este à época liderado pelo deputado Pedroso Horta.
A adoção da anistia como
bandeira propositiva de luta, mesmo no interior da oposição,
não foi uma tarefa tão fácil como pode parecer nos dias de
hoje. Ela emerge com força no cenário público somente em maio
de 71, quando o MDB realiza encontro nacional em Recife. E
mesmo assim, sob intensa polêmica, que dividia o plenário
em praticamente dois blocos diferenciados.
A favor da Anistia e da
Constituinte, teses apresentadas pela bancada pernambucana,
despontavam figuras emergentes na luta de resistência como
Marcos Freire, Fernando Lyra e Jarbas Vasconcellos, os gaúchos
Nadir Rosseti, Alceu Colares e Getúlio Dias, o paulista Freitas
Nobre, o maranhense Freire Diniz, o carioca Lisâneas Maciel
e tantos outros que, mais tarde, formariam junto conosto,
comunistas do PCB, o chamado grupo Autêntico do MDB. Contra,
em nome da prudência e entendendo que não era momento oportuno
para atiçar o regime, uniram-se democratas de peso, como Ulisses
Guimarães, Tancredo Neves, Thales Ramalho e Paulo Brossard.
A Carta de Recife era
a alforria que faltava para a anistia começar a ganhar as
ruas e as consciências democráticas da cidadania. E também
o instrumento decisivo para barrar as propostas de autodissolução
do MDB, uma postura equivocada que naquela ocasião assolava
parcelas da esquerda do partido, pessimistas pela fragorosa
derrota sofrida na eleição de 1970.
Um importante jornal de
circulação nacional, fazendo coro às vozes mais conservadoras
do MDB, estampava em editorial que a Carta de Recife na verdade
era inspirada pelos comunistas e que, por isso, não prosperaria.
Acertou no diagnóstico e nós, do PPS, nos orgulhamos disso;
mais importante, errou na previsão.
A conquista da anistia,
que permitiu a vinda dos exilados e incorporou à política
nacional cidadãos proscritos e perseguidos politicamente,
foi obra de milhares de democratas brasileiros. Muitos deles
estão entre nós, outros se fazem presentes pela lembrança
e cito, pela coincidência trágica, o companheiro Odijas Carvalho,
jovem comunista, torturado e assassinado pela polícia pernambucana,
dois meses antes do já mencionado encontro do MDB que, inclusive,
lhe rendeu homenagem.
O PPS, antes PCB, não
chama a história para si, mas apenas acentua que faz parte
dela, como páginas dignas e personagens honrados.
A anistia conquistada
em 79 ajudou a impulsionar a luta pela constituinte e pelas
eleições diretas, recolocando o Brasil no leito da normalidade
democrática. Essa conquista abriu a perspectiva para que alternativas
se confrontassem no pluralismo democrático na busca de soluções
para as graves distorções econômicas e sociais que nos afetam
há tantas décadas.
De nossa parte, manteremos
a nossa luta pela permanente ampliação das liberdades e da
democracia. E rejubilados pela comemoração dos 20 anos de
uma iluminada vitória política, proclamamos: é responsabilidade
de todos nós anistiar os milhares de brasileiros da exclusão
social e da pobreza, sem demagogia e sem oportunismo pirotécnico,
tão em moda ultimamente.
* Na época Deputado
do MDB, Roberto Freire foi um dos responsáveis pela redação
final da Lei da Anistia
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ASFOC
enfrenta Governo
contra PACOTE
Entrou em vigor, no dia 23 de agosto,
o Programa de Gestão de Pessoal (PGP) do governo federal,
que faz parte das metas traçadas pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) para o Brasil.
A pretexto de conter os
gastos públicos, o governo oferece aos servidores "incentivos
discretos", em troca do desligamento total ou pacial
do setor, através do Programa de Demissão Voluntária (PDV),
da Jornada de Trabalho Reduzida e da Licença sem Vencimento
com redução salarial.
De acordo com a MP nº
1.917, as 11 carreiras consideradas "Exclusivas do Estado",
como auditor-fiscal, diplomatas e agentes da Polícia Federal,
não poderão aderir ao PDV. No dia 19 de agosto, o Ministro
José Serra baixou a Portaria nº1073 regulamentando a adesão
ao PDV na Fiocruz, Funasa e ANVS. De acordo com o documento,
médicos e todos os servidores de Nível Superior da carreira
de C&T não poderão aderir ao PDV. Mesmo assim, os servidores
de Nível Intermediário (55,6% do quadro da Fundação) estão
englobados no Programa.
A primeira versão do PDV,
lançada em novembro de 1996, foi um fracasso. Do total que
o governo esperava demitir, apenas 3,3% deixaram os quadros
públicos. Na Fiocruz, cinco servidores aderiram ao primeiro
programa.
Neste ano, a ASFOC espera
que nenhum servidor da Fiocruz aceite o PDV. Não só pelos
riscos que este servidor estará correndo mas, principalmente,
pelo prejuízo institucional que sua demissão causará à Fundação.
Ao conceber o PDV, o Governo
transfere para o servidor que aderir ao Programa a decisão
de extingüir automaticamente seu cargo. Não é preciso lembrar
das dificuldades que a Instituição atravessa em decorrência
da falta de servidores. Basta observar o alto número de terceirizações
e bolsas, que hoje representam uma distorção funcional dentro
da Fundação. O PDV redicaliza o problema.
A ASFOC reafirmou sua
posição contrária ao PDV na última reunião do Conselho Deliberativo
da Fiocruz e está propondo uma negociação junto ao Ministro
José Serra, para que a Fiocruz fique integralmente fora do
PDV e não apenas o Nível Superior.
Na mesma negociação, a
ASFOC trabalhará para que os servidores estejam protegidos
das ameaças de demissão feitas pelo Governo.
Armadilhas do
PDV
Amparado por uma forte
campanha de marketing, o governo tenta seduzir o servidor
oferecendo bonificações relativamente atraentes, mas que jamais
trariam a segurança do salário no final do mês. O prêmio de
1,25 salário por ano trabalhado oferecido ao servidor que
aderir ao Programa até 3 de setembro, muitas vezes não é suficiente
para abrir um negócio, considerando a política de altos impostos
que incide sobre as pequenas e médias empresas. Haverá também
um empréstimo do Banco do Brasil de até R$ 30 mil (com juros
que chegam a 18% ao ano) e curso de gerenciamento pelo Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),
com duração de apenas um mês. Além disso, o governo deverá
pagar à vista o saldo devedor do reajuste dos 28,86%, descontando
todos os impostos, o que reduz o montante quase à metade.
ASFOC move processo
contra redução da Jornada de Trabalho e disponibilidade do
servidor
A linha de crédito de
R$10 mil e o curso de gerenciamento não encobrirão a grande
ilegalidade que o governo está cometendo com a redução da
jornada e consequente redução de salário. A Constituição Federal,
em seu artigo 7º, garante a irredutibilidade do salário do
trabalhador, salvo convenção ou acordo coletivo.
Com base nesta ilegalidade,
a Assessoria Jurídica da ASFOC vai entrar, no início de setembro,
na Justiça Federal com um Mandado de Segurança contra o Delegado
da Receita Federal, exigindo que ele se abstenha de implantar
os dispositivos da MP 1.917 que tratam destes pontos.
Licença sem remuneração
A Licença sem remuneração
será ampliada para três anos. Para aqueles que optarem pelo
período total, o valor do incentivo será de dois salários
por ano. É pouco, se comparado à perda de prestígio e a defasagem
tecnológica que vão impactar a carreira do servidor que ficar
tanto tempo afastado de seu círculo profissional.
Unificação da
Luta
Diante de tantas armadilhas,
o melhor caminho é unificar a luta. As entidades de classe
dos servidores públicos estão se organizando e pretendem lançar
uma campanha nacional para alertar aos funcionários sobre
o risco que correm ao abandonar os cargos num momento de desemprego.
Integrando esse movimento, a ASFOC vai se juntar ao Sindsprev
e discutir as frentes de atuação.
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Garanta
o direito de ter a ASFOC
como sua representante
A fim de evitar que o servidor tenha
que assinar uma autorização toda vez que a ASFOC precisar
representá-lo em ação contra o Governo, a Assessoria Jurídica
formulou uma autorização genérica, que deverá ser assinada
por todos os servidores da ativa e aposentados.
Portanto, compareça à
Secretaria da ASFOC, ATÉ O DIA 15 DE SETEMBRO, para garantir
o seu direito de ser representado judicialmente em todas as
ações por lesões decorrentes das relações de trabalho com
a União. Não é preciso reconhecer firma ou trazer qualquer
documento.
Mais Informações
pelos telefones:
280-4992 ou 598-4231
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Traduzindo o Economês
Álvaro Nascimento
*
Dinheiro
público banca 65% da Tele Norte Leste
Nem precisou de "grampo".
A "Folha" manchetou que o BNDES, as seguradoras
ligadas ao Banco do Brasil e os fundos de pensão de estatais
arcaram com nada menos do que 65% (R$ 898,8 milhões) da primeira
parcela de R$ 1,3 bilhão paga ao Governo pelos novos donos
da Tele Norte Leste (formada pela antiga Telerj e mais as
telefônicas de 15 estados), compradas pela bagatela total
de R$ 3,4 bilhões. Os sócios privados tentaram justificar
o pouco dinheiro que meteram para pagar a primeira parcela
dizendo que "houve um empréstimo, um adiantamento"
do setor público, que será compensado no pagamento da segunda
parcela. Além de ser contraditório com todo o discurso da
privatização (implementada com a justificativa de arrecadar
recursos privados que seriam destinados à área social e defendida
com o fato do Governo não ter recursos para investir nestas
empresas), o fato ganha contornos de "maracutaia"
quando a lei proíbe que fundos de pensão emprestem dinheiro
para empresas privadas. Dois meses depois, o Governo FHC se
mantém calado como um túmulo sobre o assunto.
Bancos vão bem, obrigado
Apesar da crise econômica,
da semi-paralisação da indústria (até a CSN anuncia o fim
do terceiro turno de trabalho) e do desemprego crescente,
o setor bancário brasileiro conseguiu manter, em 1998, a rentabilidade
dos melhores tempos de inflação. Segundo o ranking dos melhores
bancos, produzido pela Fundação Getúlio Vargas, a rentabilidade
média das 173 maiores instituições do setor ficou em 12% sobre
o patrimônio líquido (contra 10% em 1997). É como se a cada
oito anos, um Bradesco ou um Itaú da vida lucrasse o equivalente
a outro banco do mesmo tamanho, fato extraordinário em qualquer
país do mundo. A receita de todos os bancos pesquisados também
dá o que pensar. Segundo a FGV, este volume passou de R$ 106,8
para R$ 116,4 bilhões entre 97 e 98. Todos sabem que, só com
o Proer, o Governo liberou R$ 23 bilhões em ajuda aos bancos.
Numa conta grosseira, vê-se que isso equivale a 1/5 de todos
os recursos arrecadados pelas 173 maiores instituições financeiras
do País. É como se de cada quatro reais arrecadados de clientes,
os bancos tivessem recebido mais um dos cofres públicos. Realmente,
um grande negócio!
Empresas
sonegam R$ 3 bi em ICMS no Rio
A Procuradoria Geral do
Estado do Rio, tendo à frente o Procurador Francesco Conte,
concluiu um levantamento relativo aos maiores devedores de
ICMS no Rio. O ICMS é um imposto que todo mundo paga, pois
já vem embutido nos preços de cada produto. O problema é que
as empresas cobram da gente mas não recolhem o dinheiro aos
cofres públicos, para que o Estado gaste com saúde, educação,
seneamento, segurança, transporte e por aí afora. Em "economês
jurídico", cobrar ICMS no produto e não recolher aos
cofres públicos é apropriação indébita. No polular, é roubo
mesmo. É impressionante a lista de devedores (tanto pela importância
empresarial como pelo volume de recursos embolsados), encabeçada
pela Mesbla, que meteu a mão em R$ 20 milhões em ICMS cobrado
e não recolhido, Paes Mendonça (R$ 18 milhões), Texaco (R$
16 milhões), Carrefour (R$ 4,5 milhões), Xerox (R$ 4 milhões),
IBF (R$ 1,7 milhão), Faet (R$ 1,1 milhão), Microlab (1,08
milhão), Sul América Seguros (R$ 1,06 milhão), Hermes Macedo
(R$ 879 mil), Três Poderes (R$ 859 mil), Elevadores Shindler
(R$ 620 mil), Mc Donald´s (R$ 450 mil). A conclusão é que
50 mil empresas sediadas no Estado devem R$ 3 bilhões. Conte
pretende responsabilizar penalmente os sonegadores, levando-os
à prisão, caso não reponham o dinheiro que afanaram da sociedade.
Já existem mais de 200 mandados de penhora de renda emitidos.
Há, portanto, uma luz no fim do túnel...
* Jornalista e Diretor-Geral
da ASFOC
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Os 10 anos de uma conquista
A Creche Bertha Lutz, inaugurada no
dia 14 de agosto de 1989, está comemorando ao longo deste
semestre seus dez anos de existência. Ela é o resultado da
luta dos servidores pelo direito de contarem com uma creche
no seu local de trabalho, obrigação garantida pelas Leis Trabalhistas
em todas empresas com mais de 30 funcionárias na faixa etária
de 16 a 40 anos. "O desejo político do então Presidente
da Fiocruz, Sérgio Arouca, também foi decisivo", diz
Silvia Lacouth Motta Biancardine, pedagoga com especialização
em Educação Infantil, que coordena a Creche há 4 anos.
O processo de implantação
da Creche, que durou três anos, foi realizado por uma comissão
paritária composta de pessoas indicadas pela Presidência,
funcionários e uma grande participação da Asfoc. Angela Maria
Ribeiro, que é psicóloga da Creche e fez parte da comissão,
diz que "o projeto não permitia contratações e isso foi
possível através de um contrato com a Asfoc". Isso vale
até hoje, 98 % dos atuais 77 funcionários da Creche são contratados
pela Associação.
Atualmente, a Creche tem
220 vagas no Campus e 54 no IFF. As crianças ficam de sete
da manhã até cinco da tarde e participam de atividades lúdicas,
artísticas e pedagógicas, além de passeios e programas culturais
externos, como visitas a museus e concertos de música clássica.
"A questão cultural é muito valorizada aqui, sobretudo
a cultura brasileira", diz Silvia. Segundo a Coordenadora,
a Creche tem uma orientação eclética, onde a socialização
das crianças é fundamental, "mas temos de respeitar cada
uma delas como indivíduo e cidadão".
Um aspecto fundamental
para a psicóloga Angela Ribeiro, é a convivência de crianças
com as mais variadas origens sociais e culturais, "aqui
não há discriminação, as crianças crescem sabendo lidar com
estas diferenças". Todos estes fatores, somados ao esforço
de aprimoramento contínuo dos profissionais envolvidos, fazem
com que a Creche da Fiocruz venha se transformando em um modelo
para outras empresas e até mesmo creches particulares.
Silvia e Angela fazem
questão de assinalar o apoio institucional à creche, sobretudo
através da Direh, assim como a participação do Conselho Consultivo
de Pais no processo de seleção das crianças e no encaminhamento
das decisões. Foram os pais que sugeriram os temas das palestras
que fazem parte das comemorações dos dez anos da Creche, que
continuam até o final do ano. Até lá, serão realizadas novas
mesas redondas e palestras, uma exposição e o "Baile
do Cupido", em datas que serão divulgadas brevemente
a toda comunidade da Fiocruz.
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