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[setembro de 1998]
Edição Especial
3º Congresso Interno
ASFOC defende Fiocruz pública,
estratégica e estatal
A reeleição de FHC e as mudanças
na Fiocruz
A crise econômica
mundial e seus reflexos no Brasil
Nossa tática para
viabilizar a Agência Fiocruz
Desafios Institucionais
As propostas
da ASFOC
Expediente
EDITORIAL / CONJUNTURA
A reeleição
de FHC e as mudanças na Fiocruz
A reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso e a tentativa
de perpetuação do atual modelo social, político e econômico
no País traz impacto direto ao processo de Reforma do Estado
no Brasil, que vem sendo implementado de forma mais radical
nos últimos quatro anos. Os números, os fatos e as conseqüências
da reeleição devem ser cuidadosamente avaliados por nós na
Fiocruz, no momento em que estaremos negociando a mudança
de modelo jurídico da Fundação com o Governo.
Ao contrário do que o Governo Federal - auxiliado pela chamada
grande mídia - tenta "vender" à opinião pública,
FHC não tem muito do que se orgulhar com sua vitória. Apesar
de apoiado de forma decisiva por uma legislação eleitoral
que beneficiou o Presidente-candidato (tanto no tempo que
teve no horário eleitoral gratuito, quanto na exposição pública
e nos instrumentos de que dispôs por permanecer no cargo até
o dia da eleição), de uma campanha sustentada por volumosas
contribuições feitas por grandes grupos econômicos, de ser
apresentado até às vésperas do pleito por praticamente a totalidade
dos meios de comunicação de massa como o único candidato capaz
de "salvar" o País da armadilha econômico-financeira
armada por ele próprio, de contar com o favorecimento criminoso
dos institutos de pesquisa e pela forma como as enquetes eram
apresentadas pela grande mídia, o Presidente reeleito foi
rejeitado por nada menos de 67% do eleitorado, que preferiu
votar em outros candidatos, em branco, anular o voto ou simplesmente
não comparecer às urnas.
Com o apoio da legislação (aprovada no meio de uma série
de denúncias de compra de votos), dos meios de comunicação,
dos maiores grupos econômicos (que pela primeira vez não precisaram
sequer confessar as contribuições que fizeram às campanhas)
e até do Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que declarou
seu apoio a FHC para que o País "não vivesse o caos econômico",
o Presidente-candidato somou apenas 33% dos votos, enquanto
a oposição chegou a 31%.
Se raciocinarmos com base apenas nos votos válidos, veremos
que 47% dos eleitores (quase a metade do total) se manifestaram
contra FHC, sendo que estes são constituídos basicamente pelos
brasileiros que votaram em Lula e Ciro Gomes.
Outro dado importante que emerge do processo eleitoral é
a formatação da frente de oposição que inclui os governadores
do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso
do Sul, Acre, Amapá e Alagoas, todos resistentes ao modelo
de desenvolvimento implementado nos últimos anos por FHC e
sua equipe. Também no Legislativo Federal o Governo saiu derrotado.
Dos atuais 463 votos que controla através dos partidos aliados,
FHC passará a contar com 447. A oposição, que detinha 116,
cresce para 126. São números modestos do ponto de vista estatístico,
mas importantes numa avaliação política mais geral, particularmente
se levados em conta os instrumentos que cada bloco contou
para participar do processo eleitoral.
A formação da Frente Ampla lançada oficialmente em Brasília
por seis governadores de oposição (fato inédito na história
recente do País) contra o pacote de ajuste fiscal, faz surgir
propostas e programas de uma "oposição propositiva"
que terão necessariamente que ser levados em conta tanto pela
mídia quanto pelo segundo Governo FHC, particularmente no
momento em que Fernando Henrique se vê enfraquecido por uma
série de denúncias envolvendo o polêmico processo de privatização.
No entender da Asfoc, soma-se a estes dados o fato da conjuntura
mundial apontar para o esgotamento do projeto neoliberal imposto
a vários países nos últimos anos e o aguçamento da crise econômica.
Como prova disso, assistimos as sociedades de países importantes
como Inglaterra, França, Itália e Alemanha darem uma guinada
para a centro-esquerda, retirando do poder governantes como
Margareth Tatcher, Jacques Chirac e Helmut Kohl, todos alinhados
ao modelo de retirada do Estado de setores fundamentais da
economia, da privatização acelerada e da diminuição do papel
do Estado como instrumento de justiça social.
O projeto neoliberal, na verdade, não se revelou vitorioso
em nenhuma parte do mundo. Mesmo nos países onde a cidadania
é exercida de forma plena e cujos governos possuem maior capacidade
de regulação, como é o caso das Nações que formam a União
Européia, o neoliberalismo se mostrou incapaz de construir
uma sociedade mais solidária. Ao contrário, a saída do Estado
de setores importantes abriu espaço para a desregulamentação
selvagem, com impactos negativos importantes nos índices que
medem a qualidade de vida (desemprego, acesso a serviços públicos,
etc.).
Com base nestes fatos, a Asfoc avalia que há um vasto campo
de atuação e negociação aberto para que possamos interferir
e sair vitoriosos no processo de construção de uma Fiocruz
que mantenha seu caráter estratégico, público e estatal.
Retorna
A crise econômica mundial
e seus reflexos no Brasil
Adinâmica da crise mundial, o esgotamento do modelo neoliberal
e as defecções no bloco de sustentação do Governo FHC (findo
o processo eleitoral, é notório o aumento das divergências
entre os partidos que apóiam o Governo, em particular o PSDB,
o PFL e o PMDB) também inserem na conjuntura elementos favoráveis
para que, no processo de negociação com o Governo, venhamos
a conseguir construir a Fiocruz que iremos desenhar no Terceiro
Congresso.
Em relação à crise mundial e à falência do projeto neoliberal,
são inúmeros os fatos que os atestam. Após cinco anos de Plano
Real, economistas das mais variadas linhas políticas e ideológicas
concluem que não há exatamente um plano econômico, mas pura
e simplesmente uma estabilidade da moeda e a redução da inflação,
o que não se constitui num plano. Não fazem parte da pauta
do Governo uma política de desenvolvimento econômico, de distribuição
da renda, de taxação mais justa de impostos e de criação de
instrumentos eficazes que atuem nas resultantes do processo
de privatização selvagem e sem regulação implementado nos
últimos anos.
Se é verdade que o País reduziu a inflação, também é incontestável
que isso foi conseguido não graças a um modelo criado no Palácio
do Planalto, mas como resultado de uma política ditada pelas
instituições financeiras internacionais e aplicada em vários
países do mundo. Este modelo implantou uma estabilidade monetária
de custo social insuportável, pois traz com ele o desemprego
crescente, o corte cada vez maior nos gastos públicos (em
especial em saúde, educação, segurança e habitação), uma incapacidade
crescente de investimentos em infra-estrutura do País e ausência
de crescimento.
Ao invés de mola propulsora do desenvolvimento e da justiça
social, a estabilidade monetária se transformou num fim em
si mesma, como um objetivo único a ser alcançado que não produz
nenhum resultado prático, a não ser a transferência criminosa
e crescente de patrimônio e recursos do Estado para os grandes
grupos financeiros nacionais e internacionais. Estes grupos
que antes ganhavam com a inflação, agora ganham ainda mais
com os juros extorsivos pagos pelo Governo e com a aquisição
a baixo preço das empresas dos setores siderúrgico, elétrico,
de telecomunicações, as ferrovias, os metrôs, os portos, enfim,
todo o patrimônio construído durante décadas pelo investimento
público.
Pode-se concluir que houve, na verdade, uma mudança de qualidade
no processo de acumulação de riqueza em nosso País, que saiu
da simples ciranda financeira para a "modernidade"
viabilizada pelo processo de globalização econômica.
A pergunta que boa parte dos brasileiros fez quando saiu
de suas casas para votar no dia 3 de outubro foi: é possível
manter a estabilidade monetária com desenvolvimento econômico
e distribuição de renda? Os 33% que votaram em FHC acharam
que não. Os 31% que votaram na oposição preferiram acreditar
que sim. Como se vê, grande parte da sociedade buscou um novo
rumo, um novo Governo.
Do ponto de vista histórico, FHC não conseguiu articular
em torno de si forças capazes de elaborar um projeto de desenvolvimento
para o País. Tanto no primeiro quanto no segundo Governo,
sequer uma coalizão político-partidária com um programa para
atingir este objetivo foi criada. Não há um bloco social organizado
que sustente seu Governo e defenda perante a sociedade o atual
modelo neoliberal.
Na prática, FHC tem em torno de si uma associação de interesses
fisiológicos, de grandes negocistas e de grupos políticos
retrógrados que sustentam um projeto que viabiliza, por um
lado, a continuidade da acumulação da riqueza; e de outro
a permanência das oligarquias que, historicamente, se aferraram
ao poder político no Brasil para manter o status quo.
Estas forças conseguiram vencer as eleições por 33% a 31%,
mas tudo indica que são incapazes de apontar uma saída política
para a crise que atravessa o País.
A partir das polêmicas privatizações, de uma abertura econômica
irracional sem a contrapartida dos países que para aqui trazem
suas mercadorias e do favorecimento ao capital financeiro,
o Governo FHC pôs o Brasil de joelhos frente aos capitais
externos. Nunca em nossa história se transferiu tamanha quantidade
de patrimônio e dinheiro público em tão curto espaço de tempo
às mãos dos grandes grupos financeiros. Toda a filosofia do
Governo é de que o crescimento econômico virá a partir de
mais e mais capital externo (e não do desenvolvimento do País).
O mais inaceitável é que, mesmo quando eclode a crise econômica,
demonstrando toda a inviabilidade do seu projeto, FHC e sua
equipe usam de todo estoque de arrogância de que ainda dispõem
para culpar a falta de "reformas" para justificar
a falência.
O resultado de sua política é o desemprego que atinge níveis
jamais alcançados, a elevação da violência rural e urbana,
da criminalidade, a piora dos índices de morbidade, a crise
na educação, a deterioração ainda maior da qualidade de vida
da população, o aumento do exército de excluídos, a perda
dos valores morais e éticos, enfim, o vale-tudo social. Maior
prova disso é que, após cinco anos de Plano Real, o insuspeito
Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird) vem a público
denunciar o Brasil como o País pior colocado em termos de
distribuição de renda em toda a América Latina. Já o Banco
Mundial afirma que em todo o mundo, apenas Serra Leoa (na
África) fica atrás do Brasil em termos de má distribuição
de sua renda. Esta situação não se dá devido à pobreza, à
falta de tecnologia à disposição, às intempéries naturais
como a seca ou inundações, mas sim pela opção de projeto de
País feita pela elite dominante que há décadas se perpetua
no poder e que neste momento se viabiliza através de FHC.
Ao contrário do que afirma o Presidente, as ditas "reformas"
foram feitas. Ou não foram vendidos praticamente todos os
parques industriais da área siderúrgica, de telecomunicações,
de energia, de mineração, as ferrovias, metrôs e portos que
o Estado possuía? E os cortes cada ano mais volumosos nos
gastos sociais? E o arrocho imposto ao funcionalismo público,
aos trabalhadores do setor privado e aposentados, há anos
sem reajuste salarial? E a total abertura comercial a todo
tipo de produto estrangeiro, que colabora ainda mais para
o aumento do desemprego interno? E a entrada e saída sem nenhum
controle (como o que já existem em outros países como Malásia
e Índia, só para citar os emergentes) do capital especulativo
que vem para o Brasil unicamente atraído pelos altos juros
pagos por FHC? Que novas reformas se pretende para aí então
se convencer que seu projeto é inviável? FHC cumpriu todos
os ditames das instituições financeiras internacionais sem
se importar em triplicar a dívida pública devido aos juros
extorsivos que concordou em pagar. Agora, tenta jogar a culpa
do resultado de sua política nos que desde o início eram contrários
a este modelo, alertavam o País em relação a seus resultados,
mas eram taxados por ele e seus comandados como "fracassomaníacos",
"dinossauros" e "atrasados".
Retorna
Nossa tática para viabilizar
a Agência Fiocruz
As últimas semanas acrescentaram vários elementos novos à
conjuntura pós-eleitoral que levou à
reeleição de FHC. Além dos escândalos envolvendo as privatizações
e as denúncias de contas das grandes autoridades da República
em paraísos fiscais, a população assistiu ao protesto do Ministro
José Serra frente aos cortes na saúde, devido ao pacote de
ajuste fiscal anunciado por FHC e Pedro Malan.
Serra não se diferencia em termos de pensamento político
e compromissos do restante do Governo FHC. Pode-se afirmar
sem medo de erro de que ele é, inclusive, um dos ideólogos
do projeto neoliberal implementado por FHC nos últimos cinco
anos. Fora pequenas manifestações tornadas públicas em alguns
momentos, Serra faz parte do conjunto de forças que optou
por este modelo que faliu o País.
Por outro lado, é um erro tratarmos qualquer Governo (mesmo
os ditatoriais) como se fosse um bloco monolítico e de pensamento
único. Por sua formação, sensibilidade política e principalmente
devido ao fato de seu nome ser uma alternativa concreta do
PSDB às eleições de 2002, José Serra tem dado seguidas mostras
de distanciamento da equipe econômica e do próprio Presidente.
A nota do Ministério da Saúde com críticas ao uso da CPMF
para pagamento de dívidas que nada têm a ver com a saúde,
por exemplo, que levou FHC a ameaçá-lo de demissão, pode ser
apenas uma combinação teatral, mas que confirma que a figura
de Serra pode vir a conformar um projeto alternativo ao atual.
Outro dado a se considerar são os constantes enfrentamentos
entre o Ministro da Saúde e os líderes mais conservadores
do bloco de sustentação do Governo, capitaneados por figuras
como Antonio Carlos Magalhães e Paulo Maluf.
Pelos dados da conjuntura atual, está claro que José Serra
constatou, já há algum tempo, a falência do atual modelo econômico
e suas consequências sociais danosas ao País, o que o tem
levado a criticar aspectos da política implementada por FHC-Malan-Gustavo
Franco-Mendonça de Barros.
Assim, além de economistas das mais variadas tendências ideológicas,
de intelectuais, pensadores e até dirigentes empresariais
que constataram que estão perdendo mercado devido à crise,
FHC tem dentro de seu próprio partido uma defecção importante
frente ao modelo por ele proposto.
Ao assumir a pasta da saúde, Serra conseguiu um nível de
exposição na mídia (graças a alguns
factóides como subir o Morro de Santa Teresa para recolher
larvas de mosquito da dengue e ao anunciar o combate às máfias
da saúde) que o coloca como principal candidato do PSDB à
cadeira de Fernando Henrique. Por outro lado, Serra sabe que
os míseros 2% de votos que deram a vitória ao Presidente-candidato
é pouco diante dos instrumentos eleitorais com que contou
Fernando Henrique para se reeleger. E que mais quatro anos
de desemprego crescente, arrocho salarial e crise podem inviabilizar
uma candidatura que represente a continuidade do Governo FHC.
Isso pode ajudar a explicar seus protestos contra os cortes
na saúde e confirmam duas hipóteses: 1. Serra questiona efetivamente
a atual política econômica e por isso é um aliado no projeto
de fazer da Fiocruz um órgão público, estatal e estratégico
para o Estado. 2. Serra e FHC estão apenas fazendo um jogo
de cena para tentar transformá-lo numa alternativa menos draconiana
nascida no seio do próprio projeto neoliberal, com o intuito
de viabilizar eleitoralmente o seu nome para daqui a quatro
anos.
2.Tanto na primeira como na segunda hipótese, podemos admitir
que interessa ao atual Ministro da Saúde viabilizar projetos
e propostas que busquem maior eficiência e eficácia na sua
área de comando: a saúde.Mesmo que o atual Ministro não permaneça
no cargo, a contradição é inerente a qualquer governo, cabendo
a nós termos competência, vontade e coragem para enfrentar
os desafios e viabilizar nossa proposta de Agência Executiva.
Retorna
Os desafios institucionais:
propomos uma adesão propositiva
à Reforma do Estado
A primeira decisão a ser tomada pelo 3º Congresso da Fiocruz
é se a Instituição deve ou não aderir à proposta de Reforma
do Estado. E em caso de decidir aderir, como esta negociação
viria a ser feita. No entender da Asfoc, o mais correto é
iniciarmos um processo de adesão à reforma demarcando alguns
pontos que, desde o Congresso passado, não apenas caracterizam
a Fiocruz como se transformaram em sua própria razão de ser:
as nossas cláusulas pétreas.
Ser uma instituição pública e estatal; garantindo
o compromisso social que é sua marca; assegurar a existência
de uma gestão democrática; buscar eficiência e eficácia
gerencial e manter a sua integralidade institucional
são princípios dos quais não devemos abrir mão, na medida
em que são essenciais para se construir a Fiocruz que queremos
e que interessa ao conjunto da sociedade brasileira.
Frente à conjuntura política-eleitoral marcada pela vitória
do modelo de reestruturação do Estado implementado por FHC,
a Asfoc defende uma "semi-adesão" ou "adesão
propositiva" à Reforma. Para a Asfoc, podemos resumir
em quatro pontos os problemas que a Fiocruz enfrenta e que
tem nos levado à busca de alternativas de modelo jurídico
para a Instituição:
1. A administração da
Fiocruz prioriza os processos relativos às áreas onde a instituição
atua e não os resultados alcançados por elas.
2. É preciso, por isso,
buscar uma maior flexibilidade na gestão, seja na área de
compras de produtos, serviços ou na delicada gestão de recursos
humanos, com seus mecanismos de responsabilização, premiação,
punição, demissão e admissão de pessoal.
3. Para superar estes
desafios, propõe-se a introdução do saudável mecanismo do
Contrato de Gestão, que a partir de metas claras passaria
a criar parâmetros de eficiência tanto institucionais como
em relação aos recursos humanos.
4. Manter, numa administração
gerencial que substitua a burocratizada, cláusulas que dão
a tônica ao papel social da Fiocruz: seu conteúdo público
e estatal, a administração participativa e o controle social.
A Asfoc contesta algumas posições que se manifestaram nos
debates preparatórios do 3º Congresso Interno, que partem
de uma premissa equivocada: a de que se esgotaram os mecanismos
de pactuação com o Estado desta nova forma de ser da Fiocruz,
que respeite suas cláusulas pétreas. Segundo estas posições,
seria hora de revermos o modelo alternativo que construímos
até agora (Agência Autônoma/Executiva pública, estatal e estratégica,
com flexibilidade administrativa e contrato de gestão, assegurando
uma gestão democrática e a integralidade institucional) não
porque concluímos ser ele um modelo equivocado ou superado,
mas por ser mais palatável para o MARE e o Governo que representa.
No modelo de Agência que viermos a propor, queremos ver contempladas
questões como a criação de uma Plano de Carreira próprio para
a Fiocruz e o financiamento equacionado e permanente que respeite
as metas fixadas no contrato de gestão
Na verdade, por incapacidade de negociação política e talvez
por não acreditarmos no potencial de mobilização da Fiocruz,
ficamos muito longe de esgotar todas as possibilidades de
conjunção de forças em prol do modelo de Agência aprovado
no 2º Congresso Interno.
Nunca é demais lembrar que chegamos a firmar um Protocolo
de Intenções com o MARE onde
se desenhava o Contrato de Gestão. A partir daí, por resistências
no interior do Governo, fomos incapazes de priorizar a busca
de novos atores que não apenas interferissem no processo de
transformação da Fiocruz em Agência, mas se somassem a nós
na construção deste modelo.
Estes atores - que ainda hoje devem ser chamados para participar
do processo - se conformam no Conselho Nacional de Saúde (órgão
máximo de planejamento e controle da política de saúde no
País), no Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
(canal privilegiado para se buscar o apoio junto às principais
prefeituras), no Conselho Nacional de Secretários Estaduais
de Saúde (outro canal privilegiado para se chegar aos governadores
de estado), na Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais
do Brasil (Alfob), na rede de laboratórios públicos de controle
de qualidade espalhados pelo País, nas comissões de saúde
e de ciência e tecnologia do legislativo federal, estadual
e municipal, no Ministério Público (este novo e poderoso agente
de disseminação do direito à saúde), nos Procons e outras
instituições que lidam com saúde e que serão beneficiadas
de forma direta pela Fiocruz pública, estatal, estratégica
e eficiente que queremos construir.
Vitorioso o processo de transformação em Agência Autônoma/Executiva,
estes setores agora chamados a construir a Fiocruz do futuro
farão parte do arco de instituições capazes de realizar o
tão decantado "controle social", na medida em que
são, em última análise, nossos clientes/parceiros em praticamente
todas as áreas de atuação da Fiocruz.
Pergunta-se: é concebível a construção deste arco de interesses
em torno da Fiocruz? É factível que este arco consiga pactuar
com o Executivo, hoje representado por José Serra, este novo
desenho institucional, apesar das resistências do MARE? É
possível interagir com o Legislativo Federal na busca da construção
de um texto legal que viabilize nossa proposta? A Asfoc acha
que sim, desde que tenhamos um correto entendimento do papel
que a Fiocruz tem a cumprir no Estado, competência para costurar
essas alianças e coragem para os inevitáveis enfrentamentos
que poderão surgir.
Só para citar um exemplo que nos anima a iniciar a caminhada,
entre 1997 e 1998 um conjunto de entidades sindicais da área
de C&T (incluindo a Asfoc) conseguiu construiu - apesar
de submetido ao fogo cruzado permanente do MARE - um arco
de alianças no Executivo e no Legislativo (que foi da Casa
Civil da Presidência da República a Antonio Carlos Magalhães)
que viabilizou a criação de uma Gratificação para a carreira
que se imaginava impossível, dada a conjuntura de enxugamento
dos gastos públicos, a resistência do MARE à existência da
carreira em si e até a resistência de setores da área de C&T
que rejeitavam a proposta.
No caso do redesenho da instituição Fiocruz que estamos propondo,
este arco tem possibilidades reais de ser constituído de forma
ainda mais ampla, dada a importância e o papel que tem a Fundação
no enfrentamento dos problemas relativos à saúde.
Por isso, ao invés de optarmos por alternativas híbridas
ou mistas, devemos olhar de forma mais atenta para instrumentos
como a Emenda Constitucional 19, de 5 de junho de 1998, que
altera - na ótica da Agência Autônoma aprovada pelo 2º Congresso
Interno - a organização da administração pública brasileira.
A Emenda 19 cria o Parágrafo 8 no Artigo 37 da Constituição
ao definir que: "A autonomia gerencial, orçamentária
e financeira dos órgãos e entidades da administração direta
e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado
entre seus administradores e o poder público, que tenha por
objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade,
cabendo à lei dispor sobre: I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; III
- a remuneração do pessoal".
A Emenda desobriga, ainda, a adoção do RJU como único mecanismo
de gestão de recursos humanos, fixa requisitos diferenciados
para admissão de servidores, flexibiliza procedimentos dos
concursos públicos (que podem considerar a natureza e complexidade
do cargo ou emprego) e abre a possibilidade da adoção de contratos
de gestão como forma de se medir eficiência e ao mesmo tempo
garantir a alocação de recursos.
É verdade que a Emenda 19 depende de regulamentação a ser
aprovada pelo Legislativo através de uma Lei Complementar.
Mas o esforço para que isso ocorra é o mesmo que precisaria
ser feito se fôssemos negociarmos qualquer forma híbrida ou
mista que altere a atual figura jurídica da Fiocruz. Só que
naquele caso estaremos assegurando a manutenção do perfil
público, estatal e estratégico do conjunto da Fiocruz, sem
abrirmos espaço para o risco que significa implantarmos a
lógica econômica perversa (que dá a tônica ao conjunto das
iniciativas do Governo), numa instituição construída e mantida
há cem anos com recursos públicos.
Retorna
As
propostas da Asfoc
1. Reafirmar as cinco
cláusulas pétreas que caracterizam e justificam a existência
da Fiocruz:
a) Ser uma Instituição
pública e estatal (portanto, estratégica para o Estado).
b) Manter a sua integralidade
institucional.
c) Reafirmar o seu compromisso
social.
d) Assegurar uma gestão
democrática e participativa, com controle social.
e) Buscar a criação de
mecanismos que assegurem a sua eficiência e eficácia gerencial.
2.Para viabilizar estes
pontos, dentro do processo de Reforma do Estado Brasileiro
devemos transformar a Fiocruz em Agência Executiva e rejeitar
o projeto de Organização Social ou Agência Executiva Mista.
3. Em função do ítem
anterior, o Conselho Deliberativo da Ficoruz deverá, num prazo
de 30 dias, criar e nomear os integrantes de cinco Grupos
de Trabalho (GT's), com vistas a assessorar a Presidência
e o próprio CD, com o objetivo de construir um amplo arco
de apoio à viabilização política desta proposta. Cada GT será
presidido por um membro do CD-Fiocruz. Os GT's deverão atuar
nas seguintes áreas na busca de apoio à Agência Fiocruz:
GT 1 - Parlamento (Lideranças partidárias, senadores, deputados
federais e estaduais, vereadores, comissões de saúde e de
ciência e tecnologia da Câmara, Senado e Assembléias Legislativas).
GT 2 - Conselho Nacional de Saúde, Conass, Conasems, Idecs,
Procons, Alfob, Lacens.
GT 3 - Sociedade Civil Organizada (CNBB, OAB, ABI, centrais
sindicais, SBPC, Ministério Público, etc.)
GT 4 - Mídia (Jornais, revistas, televisões, rádios, Internet,
etc.)
GT 5 - Poder Executivo (Presidência da República, Governadores
de Estado, Ministros da Saúde, Ciência e Tecnologia, Administração
e Reforma do Estado, Gabinete Civil, Indústria e Comércio,
Educação, militares, etc.)
4. Para aumentar a viabilidade
da proposta vir a ser aprovada no Congresso Nacional , este
arco de apoio à Agência Fiocruz deve buscar que o próprio
Executivo proponha uma Lei criando a Agência, cuja exposição
de motivos deve ser assinada pelo maior número possível de
ministros (da Saúde, Ciência e Tecnologia, Administração,
Gabinete Civil, Indústria e Comércio, etc.).
Esta lei deverá ter como base a abertura às instituições
públicas consagradas na Emenda Constitucional nº 19, de 5
de junho de 1998, que altera a organização da administração
pública brasileira.
5. Propor a assinatura
de um Contrato de Gestão, a ser celebrado pela Agência Fiocruz
com o Ministério da Saúde, onde estarão contemplados, por
um lado, os objetivos e as metas a serem alcançadas pela futura
Agência; e de outro os compromissos do Governo com a manutenção
e implementação da nova Fiocruz.
6. Convocar a Plenária
Extraordinária do 3º Congresso assim que houver um retorno
do Governo em relação à proposta de criação da Agência Executiva
Fiocruz.
7. Rejeitar a saída do
INCQS da estrutura da Fiocruz, de acordo com as propostas
relativas à integralidade institucional e reafirmando decisão
unânime tomada pelo CD-Fiocruz.
8. Extingüir o convênio
ou regulamentar de forma rigorosa a utilização das fundações
de apoio às unidades da Fiocruz.
9. Considerando
que toda a Fiocruz necessita passar por um processo de revisão
de sua estrutura e que não há problemas de se assumir que
na prática o Hospital Evandro Chagas já funciona como unidade,
o 3º Congresso deve aprovar a sua transformação em Unidade
Técnico Científica.
Retorna
Expediente
Redação
ASFOC - Av. Brasil, 4365
Manguinhos - RJ - CEP 210045-900
Tel.: (021) 290-6395/280-4992
Fax: (021) 590-2858
Diretoria da ASFOC
André Malhão (Diretor Geral)
Alex Molinaro (Vice-Diretor)
Rita Mattos (Diretora Administrativa)
Leila Mello (Diretora Secretária)
Tirza Barbosa (Diretora Sócio-Cultural)
Marcelo Santo (Diretor de Esportes)
Júlio B. de Melo (Diretor de Assistência ao Associado)
Suplentes
Nilma Ferreira
Murilo Krawczuk
César Woyames
Mrta Silva
Tânia Araújo Jorge
Pauliran Freitas
Yrlene Cherques
Conselho Fiscal
Lúcia Helena da Silva
Anna Beatriz de Sá Almeida (Bela)
Marcos Affonso
Marco Antônio Menezes
Carlos Gomes do Nascimento
Departamento de Jornalismo
Editora: Simone Beja (Mtb 17664);
Repórteres: Adriana Marques e Gustavo de Carvalho
Redação deste Documento
Álvaro Nascimento
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